Acionista majoritário da SAF do Botafogo, John Textor acredita que a nova crise vivida pela CBF, iniciada com a destituição de Ednaldo Rodrigues do cargo de presidente, é uma "janela de oportunidades" para o futebol brasileiro, como disse em texto publicado em seu site oficial nesta quinta-feira. No comunicado, ao falar sobre a eleição para preencher a presidência da entidade, forçada pelo afastamento de Ednaldo e ainda sem data definida, o americano defende que o momento pode abrir as portas para "novas lideranças e ideias modernas". Além disso, aponta o fim de antigas práticas, caso dos votos organizados em blocos pelos clubes, como o caminho para concretizar essas mudanças.
"Falando apenas pelo Botafogo, posso dizer o seguinte Não votaremos 'em bloco'. Não seremos pressionados a formar alianças que nada mais façam do que perpetuar a política e as políticas de antigamente. Somos o clube mais tradicional do Brasil, sim, mas algumas tradições realmente precisam morrer... e a concentração de poder que permitiu ao Brasil ficar para trás em relação ao resto do mundo do futebol não deve ter a chance de definir nosso rumo para o futuro. Agora é a hora de mudar, de novas ideias. É hora de eleger líderes que tragam visão global, pessoas que tenham as habilidades para restabelecer o futebol brasileiro entre os mais respeitados do mundo... para o benefício comercial dos nossos clubes e, principalmente, para o nosso orgulho nacional", diz o empresário.
Textor também lista os tópicos que o Botafogo levará em consideração para escolher o novo mandatário da entidade máxima do futebol no Brasil. Ele pede metodologias anticorrupção, aumento salarial e melhores condições de trabalho para, árbitros, transparências nos processos de tomada de decisão, padrões rígidos de controle de qualidade da arbitragem, união de clubes e federações em problem de uma liga unificada, entre outras reivindicações.
Na eleição para presidente da CBF, cada clube das séries A e B tem direito a um voto, assim como as federações estaduais de futebol. Durante as últimas eleições, inclusive a de 2022, que colocou Ednaldo no poder, os votos das federações tiveram peso 3, contra pesos 2 e 1 dos clubes da primeira e segunda divisão, respectivamente. Tal formatação, inclusive, está relacionada ao imbróglio que culminou na destituição do presidente.
Este sistema de divisão de pesos foi definido em uma assembleia em 2017, sem a presença dos clubes, o que feriu a Lei Pelé, por isso o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) questionou o formato por meio de uma ação, movida em 2018.
Em julho de 2021, logo após o afastamento do então presidente Rogério Caboclo por causa de denúncias de assédio sexual - das quais o ex-mandatário foi inocentado pela Justiça -, foi determinado judicialmente que toda a diretoria eleita com Caboclo em 2017, de vices aos demais cargos, deveria ser destituída por ter sido escolhida sob as regras alteradas. Em agosto, após algumas intervenções, Ednaldo, então presidente da Federação Baiana, assumiu interinamente a presidência da CBF.
Antes de ser eleito oficialmente, em março de 2022, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MPRJ e se comprometeu a rever o formato de votação, desta vez em uma assembleia realizada com presença dos clubes, que acabaram concordando em manter o valor dos pesos que causaram tanta polêmica. Algumas semanas depois, Ednaldo foi eleito, sem nenhuma chapa concorrente. O problema que levou a destituição, contudo, não foi a manutenção dos pesos, mas uma reivindicação dos vice-presidentes do mandato de Caboclo, que defendem que o acordo com o MPRJ beneficiou Ednaldo, uma vez que ainda era interino quando assinou o documento e foi eleito logo em seguida, sob as regras que ele mesmo homologou.
Atualmente, a CBF está sob comando de José Perdiz, presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e encarregado de realizar novas eleições até a segunda quinzena de janeiro. A votação não deve ocorrer antes de uma visita de membros da Fifa no dia 8 de janeiro. A entidade internacional reforçou, no último domingo, que não hesitará em sancionar a CBF, inclusive com suspensão, em caso de qualquer violação no processo de escolha de uma nova presidente.