Protestos das jogadoras marcam a quinta rodada do Campeonato Brasileiro Feminino. O motivo é a recontratação de Kleiton Lima, técnico do Santos. No ano passado, ele deixou o clube após ter sido acusado e assédio sexual por 19 atletas. O treinador nega que tenha praticado qualquer ato de abuso, o que é reiterado pelo Santos de acordo com uma investigação interna.
Um dos protestos aconteceu na própria partida do Santos. Após o gol marcado por Victória Albuquerque, do Corinthians, jogadoras da equipe corintiana posaram com a mão cobrindo a boca. A cena já havia sido feita por atletas de Palmeiras e Avaí/Kindermann, outro jogo desta sexta-feira, durante a execução do Hino Nacional antes da partida. Neste último, as jogadoras também tiraram uma foto todas juntas e Letícia e Siméia, camisas 19 dos dois times, viraram de costas, em referência ao número de denúncias feitas contra o treinador.
As acusações partiram de jogadoras santistas em setembro de 2023. Na época, o próprio Kleiton Lima pediu desligamento do cargo. Os relatos diziam que o técnico comentava sobre os corpos e a vida sexual das atletas, além de apalpá-las e observá-las no vestiário.
Após a recontratação, a coordenadora do departamento de futebol feminino do Santos, Thaís Picarte, disse que as denunciantes foram procuradas durante o processo administrativo instaurado pelo clube. As goleiras Anna Beatriz, Jully Silva e a zagueira Tayla Carolina retrucaram nas redes sociais dizendo o contrário. Hoje, elas atuam, respectivamente, em São Paulo, Cruzeiro e Grêmio. Ao todo, 14 atletas deixaram o Santos no final da temporada passada.
"O clube apurou todas as informações, abriu um processo administrativo. Eu, pessoalmente, como a atual gestora e como mulher, apurei a fundo não só com as pessoas que aqui estão, mas com atletas que saíram do clube. Nada se foi provado. Pelo contrário, foram argumentos extremamente fracos, frágeis, que trouxeram uma mancha desnecessária para a história do Santos", declarou Thais na apresentação do técnico. Ela passou a gerir o departamento em janeiro deste ano, três meses após a denúncia e disse que atletas do atual elenco santista pediram pelo retorno do técnico.
"O compliance do clube indeferiu qualquer situação negativa. A Polícia Civil não trouxe nada até agora. Então, a gente fica bastante tranquilo em relação a isso, sobre seu caráter, sua conduta, sua família", declarou Alexandre Gallo, coordenador técnico do Santos, na apresentação de Kleiton. Segundo o site GE noticiou, o Ministério Público de São Paulo ainda faz uma investigação, sob segredo de justiça.
Na coletiva concedida na última terça-feira, o técnico destacou os títulos que conquistou com o Santos em outras passagens. Kleiton argumentou que saiu do clube para esperar a apuração interna. "Eu não cometi nenhum tipo de assédio. Aquelas cartas anônimas, com descrições insanas, levianas, não me pertencem", disse o técnico. Ele ainda relatou ter feito um registro de ocorrência por calúnia junto à Polícia Civil pelas cartas. Outro ponto dito por Kleiton é que havia insatisfação de parte do elenco com a comissão técnica pela cobrança para atingir metas.
Pouco antes do jogo entre Santos e Corinthians, nesta sexta-feira, o Cruzeiro publicou um vídeo com parte do elenco feminino em campanha contra violência de gênero. "O Cruzeiro reforça o seu compromisso no combate à violência contra a mulher. Precisamos juntos lutar contra a cultura de assédio e violência, presente dentro e fora do futebol", escreveu o clube, sem fazer menção ao caso que envolve o treinador do Santos.
Dentro de campo, o Corinthians venceu o Santos por 3 a 1 e manteve a liderança do campeonato. Na outra partida, o Palmeiras dominou o Avaí/Kindermann e goleou por 4 a 0. O clube alviverde é vice-líder, cinco pontos atrás do rival. O Santos é o primeiro clube fora da zona de rebaixamento, em 12º. A equipe catarinense é a 15ª colocada.