A inclusão da Esportes da Sorte na lista atualizada do governo federal de bets autorizadas a operar no País trouxe alívio ao Corinthians. Desde a publicação da primeira relação de casas de aposta regularizadas pelo Ministério da Fazenda, o clima de incerteza tomou conta do Parque São Jorge. Isso porque, apesar de assegurar estar protegido contratualmente, o clube não contava com um "plano B" de um novo parceiro para assumir a parte mais nobre da camisa alvinegra sob os mesmos termos, incluindo os valores destinados a bancar Memphis Depay. O Corinthians foi procurado para comentar o tema, mas alegou tratar-se de assuntos internos e ressaltou que o contrato está sendo cumprido de maneira integral.
O acordo entre Corinthians e Esportes da Sorte foi firmado em julho, aproximadamente um mês depois de a Vai de Bet rescindir unilateralmente com o clube após o escândalo dos repasses do intermediário a uma suposta empresa laranja. O valor do patrocínio é de aproximadamente R$ 100 milhões anuais, com vínculo vigente até 2026. Uma das cláusulas garante o aporte de R$ 57 milhões do total para a contratação de um jogador de peso. Livre no mercado, o astro holandês foi o nome escolhido, com vencimentos de R$ 3,5 milhões e contrato até julho de 2026.
Uma apólice de seguro para garantir os pagamentos a Memphis Depay chegou a ser cogitada entre os membros da cúpula do presidente Augusto Melo. A questão surgiu depois de Darwin Filho, CEO da Esportes da Sorte, ser alvo de mandado de prisão em uma investigação da Polícia Civil que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro por meio de jogos de azar. A possibilidade foi descartada pelo fato de a diretoria entender que a empresa apresentou garantias suficientes para honrar o acordo. Um dia antes de a marca não aparecer na lista do governo, o diretor jurídico Leonardo Pantaleão renunciou ao cargo. O Estadão apurou que um dos motivos da saída foi justamente o fato de a ideia do seguro não ir para frente. O secretário-geral Vinicius Cascone assumiu a função de diretor de negócios jurídicos.
Durante o período em que ficou fora da lista do governo, a Esportes da Sorte alegou "ter cumprido todas as exigências da portaria 1.475/2024, referente à regularização das bets, e acreditou tratar-se de um erro do Ministério da Fazenda". A reportagem, contudo, apurou que o fato de a marca ter o nome envolvido em investigação da Polícia Civil, assim como a Vai de Bet, contribuiu para a não liberação. Ao longo dos últimos dias, a diretoria corintiana demonstrou confiança na parceira e acreditou em uma resolução até o dia 11, quando os sites de apostas ilegais começam a ser retirados do ar com auxílio da Anatel.
Em resposta ao Estadão, o Ministério da Fazenda não detalhou a situação de cada empresa, mas citou os critérios apresentados na divulgação da lista. O texto cita como um dos possíveis motivos para a barração "informações que colocam em questão elementos fundamentais para o desempenho de uma atividade, reconhecida como serviço público pela legislação, como idoneidade das pessoas físicas e jurídicas envolvidas, bem como a origem e utilização dos recursos".
Na segunda-feira, a Esportes da Sorte afirmou ter recebido autorização da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj) para operar em território fluminense. A empresa entendeu que liberação credenciava a marca a atuar em todo o País, mas o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) suspendeu a licença. O cenário mudou na terça-feira, com a inclusão da marca na lista de bets autorizadas pelo Ministério da Fazenda em âmbito estadual.
Segundo a Loterj, a Esportes da Sorte passou a ser credenciada porque a Esportes Gaming Brasil, empresa que detém a marca, se tornou sócia controladora da ST Soft Desenvolvimento de Programa de Computadores Ltda, proprietária da plataforma Apostou.com, credenciada pela Loteria do RJ desde novembro de 2023.
Após a alteração societária, a ST Soft solicitou autorização para a substituição do domínio atual (rj.apostou.com) pelos novos (esportesdasorte.com e onabet.com), mantendo as condições de habilitação para operação. A Loterj entendeu que a empresa cumpria os requisitos e credenciou os novos domínios.
A entrada da Esportes da Sorte na lista do governo é considerada uma vitória interna do grupo de Augusto Melo. A possibilidade de perder o segundo patrocinador master em menos de um ano colocou mais fogo na fervente política do clube. Grupos de oposição alegam que a atual gestão estaria inviabilizando o clube por meios do aumento de gastos para facilitar um recuperação judicial e, posteriormente, instituir uma SAF. O presidente negou a possibilidade de vender os ativos do futebol do clube por mais de uma vez. Ele é alvo de um pedido de impeachment, em análise na apuração da Comissão de Ética.