Peões contemporâneos buscam realização além das arenas

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 02/07/2010
Rodrigo e Washington são apaixonados por montarias e pelos animais desde a infância

Chapéu de aba larga, bota, calça jeans, camisa listrada e cinto com fivelão. Esta é a vestimenta típica dos peões de rodeio que há décadas permeia o imaginário das pessoas. Mas ser peão nos dias atuais não é sinônimo de homem rústico e sem instrução, como antes. Hoje eles dividem a vida na arena com os bancos escolares.
 

Rodrigo Conceição, 24 anos, de Apucarana, é um exemplo dessa nova geração. Apaixonado pela vida campestre deste a infância, aos 16 anos ele decidiu ser peão de rodeio, se aventurando em cima de touros. Só não deixou o futuro à deriva da sorte. Atualmente, cursa o último ano de Medicina Veterinária em Garça, interior de São Paulo. “Meu sonho é continuar vivendo do rodeio e para o rodeio. Quando me formar, no final do ano, vou ter que deixar as provas do universitário e também não quero participar em outros circuitos”, diz ele, que planeja exercer a nova profissão. “Tem espaço para atuar como veterinário nos eventos e é isso que pretendo fazer. Quero continuar encontrando os companheiros de provas e seguir viajando Brasil afora, que é minha paixão”, afirma.
 

Outro apaixonado por montarias desde menino é o apucaranense Washington Novaes, 27 anos, peão desde 1998. Ele ganha a vida em cima do lombo dos touros. Diferente de Rodrigo, não pensa em parar tão cedo. “Quero continuar montando até quando meu físico aguentar. Imagino que até aos 37 anos”, espera.
 

Washington tem o ensino médio e não pensa em fazer faculdade. Entretanto, a profissionalização está em seus planos. “Quando encerrar minha vida de peão quero ser juiz de rodeio, para continuar perto do brete”, sonha.

AMIZADE E NEGÓCIO

Washington e Rodrigo se tornaram amigos em um treino de montaria. De lá para cá, estão sempre juntos e trazem muitas semelhanças. Os pais não lidam com roça ou com a pecuária. Aprenderam a gostar da vida simples do campo com os avós. Mas foram sozinhos que tiveram a sensatez que era preciso ser profissional para ter dinheiro.“Não bebo antes de montar, não uso drogas, fico concentrado na montaria, no touro”, garante Washington.

A postura de Rodrigo não é diferente. “Cervejinha só depois da prova”, ressalta. Ele, que divide as aulas de Medicina Veterinária com montarias, diz que nem sempre consegue garantir o pagamento da mensalidade com o valor dos prêmios. “Às vezes preciso recorrer aos meus pais”, confessa.
 

Já Washington afirma que o valor que ganha é suficiente. “Como faço do rodeio meu trabalho, consigo garantir o dinheiro para pagar todas as minhas despesas e fazer alguns investimentos”, diz. Ele, que é peão na divisão de acesso do circuito Brahma, comprou o carro com dinheiro de montaria. “Quem monta todo final de semana e dependendo dos rodeios que participa consegue ganhar uns R$ 15 mil por mês”, calcula. No entanto, nem sempre é mês de vacas gordas. “Também acontece de ficar meses sem ganhar nada”, conta.
 

Por conta desses percalços, Washington resolveu abrir uma confecção de camisetas e bonés com motivos country. Ele fabrica e Rodrigo ajuda a vender nos eventos que monta. “É uma parceria”, define Rodrigo.

MARKETING PESSOAL

Engana-se quem pensa que essa palavra só faz sentido dentro de grandes empresas. Os organizadores de rodeios são quem emite os convites aos peões. “Tem que ser bom e ter um relacionamento amigável para sempre ser convidado”, frisa Washington. Ele já participou da seleção do rodeio de Barretos, mas não foi classificado. “Quero tentar de novo e quem sabe ir para a final”, aguarda. Rodrigo não sonha com a mais cobiçada arena brasileira. “Quero continuar com o universitário”.
 

Mesmo com desejos distintos, a dedicação é intensa. Eles treinam, em média, de duas a três vezes por semana e participam de montarias todos os finais de semana.