CANNES O cineasta finlandês Aki Kaurismaki recebeu o Prêmio da Crítica em Cannes pelo drama “Le Havre”, descrito como um conto-de-fadas. A história é, afinal, desenvolvida com uma doçura e um otimismo não muito característicos do diretor.
Na trama, situada na cidade que dá nome ao filme, um engraxate, cuja esposa está morrendo em um hospital, acolhe um jovem imigrante africano e se dispõe a escondê-lo das autoridades francesas. O garoto almeja cruzar o Canal da Mancha para se reunir com a mãe, em Londres, e o protagonista decide ajudá-lo.
Ao reforçar essencialmente o que o ser humano tem de melhor, “Le Havre” poderia emular as obras mais queridas e tocantes do cineasta americano Frank Capra (“A Felicidade Não Se Compra”). Mas há espaço, também, para interpretações mais profundas. Os personagens não deixam de ser priorizados, mas se tornam peões de uma discussão maior – as tensões políticas contra os imigrantes na Europa contemporânea.
O próprio Kaurismaki admitiu, durante a entrevista coletiva com a imprensa, que a sua visão de mundo é bem mais sombria do que a que se vê no longa. “Eu tinha uns 10 anos de idade quando me descobri desapontado (com a vida). Então eu decidi fingir e passei a criar esperança para os outros, porque eles ainda conservam alguma”, disse o diretor.