As Mães de Chico Xavier fala sobre dor da perda e busca por respostas

Autor: Da Redação,
domingo, 03/04/2011
A personagem Ruth, vivida por Via Negromonte, vive uma das mães que dá título ao filme

Tudo começa com uma pescaria entre pai e filho. À primeira vista, acreditamos se tratar de um momento de reconfortante tranquilidade e cumplicidade entre as duas figuras. Tal percepção, porém, desaparece diante de nossos olhos logo na cena seguinte, em que o dia em família se revela uma armadilha para enviar André, o filho, a uma clínica de reabilitação contra as drogas. O terceiro membro do clã, a mãe, Ruth (Via Negromonte), assiste a tudo passivamente, ciente da impotência diante do vício do garoto.

Corta a cena. Em um bar, o professor de pintura Santiago (Gustavo Falcão) comunica ao amigo e jornalista Karl (Caio Blat) que dará uma guinada no rumo de sua vida - sem saber que ela já seguia um novo caminho muito antes, com a ainda não revelada gravidez de sua namorada, Lara (Tainá Muller). Por fim, ao acordar de um pesadelo, o pequeno Theo é amparado pela mãe, Elisa (Vanessa Gerbelli), que, com um marido ausente, deposita todo o seu amor na criança.

A despeito de qualquer clichê presente em As Mães de Chico Xavier, a verdade é que a curiosidade sobre o desfecho dessas histórias prende até o menos interessado telespectador na poltrona do cinema. No decorrer da trama, encontramos o laço que as une: a dor da perda e, mesmo que não consciente, a necessidade de encontrar respostas. Talvez tenha sido essa a grande sacada dos cearenses Glauber Filho (Bezerra de Menezes) e Halder Gomes (Cine Holiúdy - O Artista Contra o Cabra do Mal e Loucos de Futebol) ao tentar atrair multidões aos cinemas - como vem acontecendo com as demais produções cuja temática é atrelada à doutrina espírita, entre elas Chico Xavier, de Daniel Filho, e Nosso Lar, de Wagner de Assis.

Se o êxito na bilheteria depender da presença da figura de Chico Xavier - que, mais uma vez, é interpretado por Nelson Xavier -, a batalha está ganha. Mas, por sorte, não vemos apenas mais do mesmo no longa. Alguns elementos trazem o diferencial necessário à sua existência, como a inserção de depoimentos reais de mães que perderam seus filhos - o que dá um tom documental à obra e compõe uma das melhores passagens do filme - e a figura do jornalista Karl, inspirado em Marcel Souto Maior, autor de Por Trás do Véu de Isis, livro que serviu de base para o filme.

Incrédulo até que se prove o contrário, Karl tem a missão de ir à mineira Uberaba investigar a veracidade das histórias contadas a respeito de Chico. Tal recurso poderia ser mais bem utilizado pelos diretores, uma vez que todo o ceticismo de Karl vai por água abaixo logo em seu primeiro contato com o médium.

Assim, apesar de ser vendido como não religioso, o filme não perde por um segundo seu caráter doutrinário, tentando a todo custo convencer aquele que assiste da verdade por trás do espiritismo - isso sem contar sua mensagem nada discreta contra o aborto. A ciência de que há um mercado lá fora ávido por produções espíritas torna o discurso ainda mais explícito. E, se apenas esse nicho não basta, basta focar nas mães e na sua dor, que independe de credo ou classe social, para que o restante do público se complete.

A necessidade de expor a dor a todo custo leva, não por menos, à exacerbação da emoção, mesmo em momentos em que a razão deveria dar as caras. As cenas muitas vezes passam arrastadas e a linguagem em muito se assemelha a das telenovelas, resultando em um melodrama um tanto quanto desnecessário que piora ainda mais quando unido à trilha sonora focada no choro fácil. O elenco, por sua vez, apresenta atuações nada surpreendentes, mas que cumprem o papel que lhes cabem: emocionar, exagerando ou não no tom.

As Mães de Chico Xavier tem seu público - e um grande público, diga-se de passagem. O sucesso nos cinemas é praticamente garantido e, pesando pós e contras, não decepcionará quem a ele for assistir.