Uma onça precisa de pelo menos dez quilômetros quadrados para viver bem na natureza. Onde existir uma onça pintada é sinal de que a saúde daquele ecossistema está perfeita. Pena que uma das onças nunca mais vai poder voltar para natureza. Ela foi entregue ao Ibama ainda criança, vivia em uma fazenda e tinha sido abandonada pela mãe, a única que poderia ter lhe ensinado a caçar, a caminhar pela mata e a sobreviver na floresta.
A onça vive em um minizoológico dentro da Itaipu binacional e é uma grande oportunidade para todos nós conhecermos de perto como é uma onça pintada, já que ela está em extinção por estas matas. Nos anos 1990 eram 60 onças pintadas no Parque Nacional. Hoje, depois de 20 anos, a estimativa é de apenas 10 animais.
“Eu acredito que em 50 anos a gente pode ter a extinção da espécie na Mata Atlântica”, explica a bióloga Marina Xavier da Silva.
Em uma única noite, uma onça é capaz de caminhar mais de 40 quilômetros atrás de alimento. Exímia na arte de escalar árvores, nadadora excepcional, atravessa com facilidade grandes rios. Por precisar de muito espaço, a cada dia mais ela corre o risco de chegar nas fazendas vizinhas à floresta. E ali, normalmente, acaba sendo morta a tiros.
“Para nós, humanos, o grande desafio é justamente ter esse convívio com o que resta dessa natureza tão ameaçada. É difícil, para as pessoas, aceitar grandes predadores, mas eles são fundamentais para essa diversidade que nós temos e que, na realidade, estava aqui bem antes do homem aparecer na Terra”, argumenta o médico veterinário da Itaipu binacional, Wanderlei de Moraes.
A onça pintada é o animal mais importante da Mata Atlântica. Por ser a maior predadora da floresta, é ela quem acaba atuando no controle e no aprimoramento genético de todas as outras espécies da mata.“O ecossistema é um conjunto de situações que se equilibram, então os predadores mantêm esse equilíbrio”, afirma o veterinário.
A onça pintada é o símbolo do Parque Nacional de Foz do Iguaçu. É por causa dela que nos parques da Argentina e do Brasil foram instaladas máquinas fotográficas pela floresta para tentar registrar a sua passagem.
Dois irmãos que aparecem em uma foto ainda filhotes foram vistos em vários lugares do Parque Nacional e também nas proximidades do hotel das Cataratas. Em uma das vezes, bebendo água na piscina.
Para que a cultura de cada bicho sobreviva é preciso que a mãe consiga transmitir aos filhos a memória da espécie: onde se dorme, se come e quando é preciso fugir. Umas das onças, ao perder a mãe, perdeu essas referências. A mesma coisa está acontecendo com uma veadinha mateira, de um mês de idade, encontrada na floresta ainda bebê e sem a mãe.
Desde então, todos os dias, Marina, bióloga do Parque Nacional, vai até a floresta para alimentar a veadinha.
“Ela foi atacada por algum predador natural, a gente limpou os ferimentos e deixou no mesmo lugar, na esperança que a mãe voltasse. Mas a mãe não voltou e a gente optou por cuidar dessa maneira semi-domesticada”, explica.
Depois de mamar, ela fica um longo tempo brincando no quintal da casa da bióloga. Dá saltos, giros no ar, aprende sozinha a viver neste mundo.
“Ela aprendeu a se defender, a se camuflar também. Ela fica sozinha, boa parte do tempo encolhidinha, escondida”, conta.
Na ameaçada Mata Atlântica, a vida, mesmo escondida, encontra sempre um caminho em busca de mais vida.