Projetos aprovados pelo Rumos focam a memória e narrativas marginais

Autor: Da Redação,
segunda-feira, 09/05/2016

SILAS MARTÍ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quase um terço dos 117 projetos apoiados pelo Rumos, programa de fomento às artes do Itaú Cultural, são propostas ligadas às artes visuais e grande parte delas foca questões de memória e narrativas de grupos às margens da sociedade, em especial de lugares arrasados ou arruinados pela chamada marcha do progresso.
Anunciados na manhã desta segunda (9), projetos como o da artista Carolina Ferreira Fonseca, que pretende percorrer milhares de escolas rurais em ruínas em Goiás, Minas Gerais e Bahia têm forte carga de denúncia ao mesmo tempo em que trazem para o plano artístico visões do que seria o atraso ou o descaso do país com seu patrimônio histórico e o destino de comunidades às margens dos centros mais desenvolvidos.
Luiz Netto, um fotógrafo do Recife, também terá incentivo para um projeto que deve documentar as cidades submersas pela construção de hidrelétricas ao longo do rio São Francisco, em especial na Bahia e em Pernambuco.
Na mesma pegada, Clara de Souza Rocha Meliande criará uma editora para publicar livros que documentem a destruição ainda em curso para a implantação do parque olímpico no Rio. Seu projeto visa mostrar a relação entre a paisagem natural e a construída, além de interferências urbanas, remoções forçadas e o fenômeno da gentrificação, quando moradores originais são expulsos de um território por pressões econômicas para que uma nova classe social se estabeleça naquele lugar.
Em tempos de transformação acelerada, as manifestações que chacoalham o país também são alvo de um projeto do jornalista Bruno Torturra, que pretende criar uma estação móvel para documentar protestos nas ruas e praças do país, mostrando uma mudança na relação com o espaço público.
Um dos artistas mais conhecidos nessa leva de projetos, Bruno Moreschi vai desenvolver seu "Mapa (de Homens) da História (Branca) da Arte (Eurocêntrica)", em que planeja criar um panfleto que mostra quanto o ensino da história da arte deixa de fora autores de fora da Europa e dos Estados Unidos, em especial mulheres e minorias raciais.
Esta 17ª edição do Rumos teve 12 mil projetos inscritos de 74 países, sendo que foram aprovados 116 de 25 Estados do Brasil, a maior parte deles de São Paulo, e um da Argentina.