Último clipe, com Bowie em cama de hospital, é revisto como 'despedida'

Autor: Da Redação,
segunda-feira, 11/01/2016

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um David Bowie frágil, que convulsiona e flutua numa cama de hospital, é o protagonista do último videoclipe da carreira do músico inglês, lançado apenas quatro dias antes de sua morte e revisto agora, sob o impacto da notícia, como uma espécie de sinal de que ele estava em seus momentos finais.
"Olha aqui, eu estou no céu", diz no vídeo de "Lazarus" o cantor, debilitado e com olhos vendados, enquanto se contorce, tentando se libertar da condição.
Bowie lutou muito reservadamente contra um câncer por 18 meses até este domingo (10). A morte foi anunciada pela família na madrugada desta segunda (11), em mensagem nas redes sociais.
Numa espécie de mensagem de despedida, voluntária ou não, ele fala sobre a batalha, que vinha sendo vencida pela doença, na música, uma das faixas do álbum "Blackstar", lançado na sexta (8).
"Eu tenho cicatrizes que não podem ser vistas (...) / Olha aqui, eu estou em perigo / Nada tenho a perder", diz a letra.
O clipe, colorido em tons frios, numa estética que destoa do estilo típico do artista, mostra ainda um outro Bowie, mais vívido, que dança completamente vestido de preto em frente a uma janela iluminada e lembra do "momento em que cheguei a Nova York / Eu estava vivendo como um rei".
Angustiado, ele também tenta escrever, como numa representação do esforço do artista para voltar a criar.
Este segundo personagem sai de cena lentamente, entra num armário escuro, enquanto o enfermo diz: "Oh, eu estarei livre".
O clipe é assinado por Johan Renck, conhecido por dirigir três episódios da série "Breaking Bad".
ALIENÍGENA NOSTÁLGICO
"Lazarus" foi apresentada em um musical homônimo, assinado por Bowie em coautoria com o dramaturgo Enda Walsh e encenado em Nova York no começo de dezembro.
A peça é uma releitura do filme "O Homem que Caiu na Terra", dirigido por Nicolas Roeg em 1976 e estrelado pelo artista.
Na história, o alienígena Newton, interpretado na peça por Michael Hall, está preso na Terra, sufocado pela nostalgia e por um amor interrompido. Ele deseja retomar sua vida no planeta desértico de onde veio e, impotente, afoga-se em gim para aliviar a claustrofobia.
O último álbum de Bowie, 25º de estúdio do músico, nasceu de cinco meses de trabalho isolado em sua casa, após os quais ele se reuniu com o produtor Tony Visconti e o baterista Zack Alford para gravar as canções.
O disco anterior, "The Next Day", foi lançado em março de 2013, após uma década de recolhimento