Ativista gay faz documentário trágico sobre companheiro

Autor: Da Redação,
segunda-feira, 28/10/2013

Não fosse um acidente trágico, provavelmente a vida desse jovem casal americano andaria de vento em popa. Juntos havia seis anos, eram sócios em uma empresa, tinham casa própria, um cãozinho e passaportes carimbados pelo mundo afora. Shane Crone e Tom Bridegroom já se consideravam casados, faltava apenas a tão sonhada união formalizada pelo estado.

Não deu tempo. A história de amor desse casal foi interrompida pelo destino, quando Tom caiu de um telhado e morreu, em maio de 2011, meses antes de a Califórnia liberar o casamento gay.

S
eu companheiro, Shane, nem teve chance de se despedir. A caminho do velório, foi surpreendido por um aviso da família do morto: sua presença não era bem-vinda. “Eles não admitiam ter um filho homossexual e ainda me culpavam de tê-lo influenciado”, contou ao iG o ativista, roteirista e cineasta.}

Para todos os efeitos, Tom e Shane eram apenas bons amigos. “Se tivéssemos nos casado, tudo teria sido diferente”, desabafa Shane. A revolta por ter perdido seu grande amor – e ter tido parte de sua história apagada na marra pela família do companheiro - mudou a vida de Shane. Em março de 2012, ele deu voz à sua luta pelos direitos igualitários dos homossexuais por meio de um vídeo publicado no Youtube.
 

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“It Could Happen to You” (Poderia ter acontecido com você) rapidamente se alastrou na rede e teve quase 5 milhões de visualizações. “Fiz um vídeo-tributo para homenagear Tom e alertar as pessoas de que isso poderia acontecer com elas”, conta.

Ao tomar conhecimento do viral, a diretora Linda Bloodworth Thomason ficou tocada e resolveu transformar a história de Tom e Shane no documentário “Bridegroom”. “Linda disse que a minha história tinha de ser contada, pois abriria o coração e a mente de muitas pessoas.”

Muita gente concordou com ela. Com recorde de arrecadação coletiva (o crowdfunding para a produção do filme teve colaboração de 65.000 pessoas), o documentário ajudou a cicatrizar parte das feridas de Shane. “Fez muito bem para mim dividir minha história e ajudar milhares de jovens que passam por situções parecidas. Mas não foi fácil, doeu muito.”


Sua militância chamou a atenção do ex-presidente Bill Clinton, que passou a abraçar sua causa, e inclusive participou do lançamento do documentário no Tribeca Film Festival deste ano. “Nunca imaginei que viria tanta energia positiva de algo tão trágico.”

 
Shane nunca mais falou com os pais de Tom. Mas recebeu elogios de alguns familiares do ex-companheiro. “Eles disseram que fiz a coisa certa e que Tom ficaria muito orgulhoso de mim. Foi muito bom escutar isso.”

Ele não sabe mensurar o impacto que o filme terá sobre a sociedade norte-americana. Afinal, cada estado possui sua legislação e 30 deles ainda não permitem o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. “Ainda há uma longa estrada pela frente”, ele afirma. “Com certeza Tom estaria comigo nesta batalha”, acredita o ativista, que ainda está vivendo o luto. Desde a morte de Tom, não teve nenhum relacionamento.

“Neste momento, encontrar alguém não é meu foco. Mas a gente nunca sabe o que pode acontecer amanhã.” As memórias do tempo que passou ao lado do ex-companheiro ainda estão frescas. Ao se despedir da reportagem, Shane se lembra da viagem que o casal fez junto ao Rio de Janeiro. Com voz embargada, declara: “Foi a melhor de todas. Sou muito agradecido por ter vivido essa experiência com Tom. Ficará para sempre no meu coração”.

“Bridegroom” estreou no Netflix no domingo (27).