A exposição da União a riscos fiscais específicos chegou ao patamar de R$ 6 trilhões, um avanço de R$ 244 bilhões ao que foi registrado no fim do ano passado. O dado foi divulgado nesta sexta-feira, 27, pelo Tesouro Nacional no Relatório de Riscos Fiscais da União. Dentro do volume de 2023, a exposição relacionada aos ativos chegou a R$ 1,5 trilhão, enquanto a exposição associada aos passivos foi calculada em R$ 4,5 trilhões. Entre os avanços, o Tesouro destacou o valor do estoque de ações judiciais contra a União - entre as de risco provável e possível -, que somaram R$ 3,9 trilhões em setembro, um aumento de 3,9% frente ao ano anterior. "A realização de despesas anuais decorrentes de perdas judiciais tem acompanhado este movimento ascendente: enquanto em 2014 esse gasto foi de R$ 18,8 bilhões, para o ano de 2024, em termos nominais, estima-se que alcance R$ 66,9 bilhões, o que corresponde a 3,1% das despesas primárias (estimativa de valor pago e despesa primária-PLOA 2024)", apontou o Tesouro. O órgão ainda destacou que, de um ativo de R$ 2,8 trilhões da Dívida Ativa da União, o governo espera a recuperação de R$ 587,9 bilhões, com a maior parte impactando o resultado primário. Mas a maior parte, cerca de R$ 2,3 trilhões (79%), são considerados perdas. "Esta expectativa parte do histórico de adimplementos nos últimos quinze anos". No caso da relação com os Estados e municípios, o Tesouro ressaltou que os haveres e as garantias junto a estes entes alcançaram R$ 966,5 bilhões. Já passivos contingentes gerados por liminares à Emenda Constitucional 109/2021 (a PEC Emergencial), para a União financiar o pagamento de saldos de precatórios vencidos, estão estimados em R$ 139,3 bilhões, totalizando R$ 1,105 trilhões. O Tesouro também chamou a atenção para o impacto das propostas do Congresso que alteram o relacionamento interfederativo, estimado em R$ 825,3 bilhões para um período de dez anos. O órgão afirma que, apesar de não se enquadrarem como risco fiscal, são "importantes fontes de incertezas para a União". Além disso, pontuou que considera o "risco possível" de necessidade de aporte emergencial em empresas estatais em 2024 devido principalmente "às dificuldades concretas que algumas" dessas empresas enfrentam.
ICMSO Tesouro explicou também que as honras de garantias da União a operações de crédito alcançaram o montante de R$ 59,8 bilhões, de 2016 até agosto de 2023. Já o valor não executado de contragarantias pela União, devido a ordens judiciais expedidas, foi zerado em 2022 em razão de renegociações contratuais - a cifra passava de R$ 40 bilhões em 2021. O órgão destacou, contudo, que o saldo voltou a crescer em virtude de novas ações judiciais movidas por Estados que questionavam a forma como se daria a compensação da perda de arrecadação de ICMS por parte dos Estados, após as alterações promovidas pelo Congresso. "No ano de 2023 essas novas liminares concedidas vêm impedindo a execução de contragarantias. O crescimento de contragarantias não executáveis caracteriza a materialização do risco fiscal envolvido nas concessões de garantias da União", apontou.
Outros riscos específicosSobre o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o Tesouro ainda ressaltou que, em junho de 2023, o valor do estoque da exposição de operações já concedidas no âmbito do programa chegou a R$ 103,5 bilhões. Desse montante, R$ 69,7 bilhões corresponde ao saldo devedor integral dos contratos em atraso, o que representa 67,3% do total da carteira. O valor do ajuste para perdas estimadas é de R$ 47,2 bilhões. Ainda em relação a riscos fiscais específicos, o relatório também cita a estimativa de impacto da evolução demográfica brasileira sobre as despesas selecionadas de saúde, que é de R$ 9,3 bilhões em 2032. Já sobre a educação, a pressão é por reduzir gastos em R$ 1,3 bilhão, a preços de 2022. "Esses impactos se devem à modificação da estrutura etária, com aumento do número de idosos e redução do número de jovens na população", observou. Já o montante do estoque dos passivos contingentes da União em processo de regularização no âmbito da Secretaria do Tesouro Nacional - dívidas decorrentes da extinção/dissolução de entidades da administração federal, dívidas diretas da União e dívidas decorrentes do Fundo de Compensação de Variações Salariais - (FCVS) - é de R$ 106,1 bilhões ante R$ 112,4 bilhões em 2022. Cerca de 93,8% desse montante diz respeito ao FCVS.