Uma possível onda de estímulos por parte do governo federal, para tentar frear o provável arrefecimento da atividade econômica daqui em diante, já preocupa parte do mercado. O risco, porém, ainda é muito incerto e baseado, sobretudo, em sinais da atual gestão e na experiência anterior com governos petistas, segundo economistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).
"O governo já tem feito algumas medidas, mas elas têm sido modestas do ponto de vista fiscal", afirma a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória. "Nós ficamos preocupados, porém, se essas medidas são a ponta de um iceberg ou se o governo só está dando algum paliativo para tentar dar uma reativada na economia", pondera a economista, que prevê enfraquecimento da atividade ao longo do segundo semestre, principalmente nos setores mais dependentes do crédito.
Vitória projeta queda de 0,2% para o Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre e estabilidade (0,0%) no quarto, após a alta de 1,9% registrada no PIB do primeiro trimestre e um avanço de 0,2% prevista para o segundo. O resultado, calcula, deve ser um crescimento de 2,0% para a atividade econômica no ano. "Não será um segundo semestre bom, mas também não teremos uma recessão. Se pensarmos que o juro está em um patamar de restrição elevada e que é preciso desacelerar a inflação, estamos fazendo um soft landing no Brasil."
O economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, por sua vez, avalia que o risco maior de uma onda de estímulos depende da avaliação do governo sobre a atividade em 2024 e está concentrado principalmente no parafiscal, com uma possível utilização massiva de bancos públicos na concessão de crédito subsidiado. "Do lado fiscal, a expansão das despesas reais está bem mapeada", complementa. Ele destaca que esse risco não está incorporado ao cenário base da corretora.
Para Vitória, há risco em uma ansiedade do governo para fazer o PIB crescer. "A hora que os dados de crescimento não se concretizarem nos próximos trimestres, o governo pode vir com ideias criativas; fórmulas mágicas que já tentamos no passado e não funcionaram", diz Vitória, que avalia que uma possível apresentação de medidas mais arrojadas poderia atrapalhar a percepção de risco do País.
A economista defende que a melhor postura nessa conjuntura seria esperar passar o momento de crescimento baixo e permitir que a inflação convirja para meta de maneira consistente. "Assim a derrubada dos juros fará a economia crescer lá na frente", diz. Vitória projeta crescimento de 1,5% para o PIB em 2024, com viés para baixo.
A XP de Margato prevê crescimento de 2,2% para o PIB em 2023, seguido por desaceleração a 1,0% em 2024 - a projeção para o próximo ano, neste caso, tem viés de alta. "Se houver um crescimento entre 1,0% e 1,5% em 2024, isso será avaliado como pouco ou como dentro das expectativas?", questiona o economista.
A projeção de arrefecimento do PIB a 1,0% em 2024 é compartilhada pelo economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez - ele prevê, porém, uma alta de 2,0% em 2023. Questionado sobre possíveis novos estímulos do governo federal sobre setores específicos da economia, como o subsídio às montadoras ou a possibilidade de um incentivo à linha branca, Sanchez avalia que, baseado em governos anteriores do PT, essas medidas podem se tornar cada vez mais frequentes.
O economista salienta, no entanto, que, em sua análise, essas medidas são infrutíferas do ponto de vista econômico. "Estamos falando de itens ligados ao crédito, então o que acaba acontecendo é uma antecipação ou postergação desse tipo de compra, não há um impulso perene com esse tipo de medida", diz.
Sanchez atenta ainda para um ruído fiscal que esse tipo de medida pode ocasionar. "Você precisa tirar recursos de algum lugar, abrir mão de alocar esse recurso em outra área, para viabilizar o incentivo", diz. "E o pior é o risco de não dar certo, porque o gasto já fica contratado, só não se sabe se o retorno concreto virá."
Margato acrescenta que o julgamento político sobre o desempenho do mercado de trabalho pode ser ainda mais determinante para a concretização ou não do risco de novas medidas de estímulos pelo governo. Até o momento, segundo o economista, o quadro geral do mercado de trabalho está mais positivo do que o imaginado e ao longo do terceiro trimestre a perspectiva é de uma taxa de desemprego oscilando ao redor de 8,0%, com ajuste sazonal. A taxa, porém, deve voltar a aumentar a partir do último trimestre, pondera. A XP projeta, por ora, taxa dessazonalizada de 8,5% no fim de 2023 e em torno de 9,0% no fim de 2024.
Sobre as medidas já lançadas pelo governo federal, Margato avalia que algumas delas promoveram certo alívio no curto prazo, mas não foram fortes o suficiente para reverter a tendência de desaceleração, somente suavizar o movimento. Ele destaca as iniciativas de transferência de renda e, entre elas, o Bolsa Família. "Quando olhamos para um conceito mais amplo de renda disponível para as famílias - que, além de salário, considera benefícios previdenciários e programas de proteção social -, chegamos a uma elevação de quase 5% acima da inflação em 2023. Essa é a principal contribuição no curto prazo", afirma.
Ao falar de uma perspectiva mais a longo prazo, Sanchez, da Ativa, lembra que devido à eleição presidencial em 2026, há o risco de uma certa antecipação da disputa eleitoral, com a instauração de possíveis medidas populistas, a exemplo do visto em 2022. A Ativa prevê crescimento de 1,5% para o PIB em 2025 e 2026.