O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil pode fazer mudanças no pedido para adesão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O tema está sendo tratado por um grupo de trabalho e será levado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Haddad teve um encontro com o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, em Davos, na Suíça, nesta quarta-feira (18). Sobre se teria abordado algum pleito do governo brasileiro durante o encontro, o ministro disse que não, uma vez que a reunião foi rápida, de 15 minutos.
"Não existe nenhum impedimento para que o Brasil pleiteie uma adesão em conformidade com os seus interesses. Não há uma rigidez que é tudo ou nada. Você tem espaço para discussão", disse Haddad, a jornalistas, durante o Fórum Econômico Mundial.
Segundo o ministro, foi criado um grupo de trabalho para definir os termos de uma eventual participação do Brasil na OCDE para que o presidente Lula possa tomar uma decisão sobre o tema. "O Brasil já participa muito da OCDE. Essa aproximação está acontecendo naturalmente e agora vou ver com o Itamaraty e a Presidência da República os próximos passos", disse.
Questionado sobre o que seriam os próximos passos, Haddad afirmou que a agenda que compreende temas como G-20 e Mercosul depende de uma reunião específica com o presidente Lula. É ele quem dará a linha a ser seguida, conforme o ministro.
"Relações do Brasil com o mundo são muito complexas, né? Envolve muitos fóruns. O Brasil assume a presidência do G-20, depois assume a presidência dos Brics, Mercosul", acrescentou.
O ministro disse que é preciso desenhar uma política sobre a participação do Brasil nessas organizações multilaterais, algo que será feito em conjunto com o Itamaraty e orientação por parte do presidente Lula.
Satisfação
Fernando Haddad afirmou que sai do Fórum Econômico Mundia "satisfeito" com o que ouviu sobre o Brasil. Durante sua estreia na comunidade internacional, ele teve uma agenda intensa de reuniões bilaterais e encontros com empresários, investidores internacionais, banqueiros e representantes de organismos multilaterais e de diferentes países.
"Eu cheguei aqui surpreso com o grau de preocupação (da comunidade internacional) com o Brasil e eu penso que a mensagem da Marina (Silva, ministra do Meio Ambiente), a minha foi no sentido de mostrar que o Brasil segue forte e as pessoas ficaram felizes em ouvir isso da nossa parte", disse aos jornalistas.
Sobre o recado político que trouxe a Davos, em defesa à democracia no Brasil após os atos de 8 de janeiro, Haddad disse que ainda há a possibilidade de surpresas por parte da extrema direita. "São células que se organizam muito rapidamente e com um princípio estabelecido pela narrativa do ex-presidente (Jair Bolsonaro) que despertou paixões irreconciliáveis com a democracia", afirmou.
Na visão do ministro, o Brasil tem de ter representantes em todos os fóruns internacionais como, por exemplo, em Davos, que reúne a elite financeira no inverno suíço para debater temas globais econômicos e de sustentabilidade. "E aqui não é diferente. Você precisa mandar alguém para cá. Se não veio o presidente da república, veio o ministro, queremos nos revezar, mas sempre é importante ter alguém representando o Brasil porque você dissemina informações relevantes, perspectivas sólidas sobre o que vai acontecer", explicou.
Estar presente em fóruns internacionais é uma oportunidade de o País para mandar uma mensagem à comunidade que pode atenuar qualquer tipo de "estresse infundado". "Não há nenhuma razão para o mundo ter preocupação com o Brasil nem do ponto de vista da democracia, que vem respondendo aos ataques que são reais, não são imaginários, e que precisam e estão sendo enfrentados com a dose certa e legal", afirmou Haddad.
Apesar disso, o ministro disse que o mundo passou a ter uma "vigilância eterna" diante da onda extremista vista na Europa, Estados Unidos, Ásia e América Latina. "Existe um crescimento do extremismo de direita no mundo e isso precisa ser contido institucionalmente", disse Haddad, reforçando que as instituições brasileiras se uniram para preservar as liberdades democráticas.