A aversão a risco no exterior, após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) indicar na quarta-feira que os juros do país seguirão elevados por mais tempo do que o imaginado, pesa no Ibovespa na manhã desta quinta-feira, 21. Depois de uma pausa na véspera - fechou em alta de 0,72% (118.695,32 pontos) -, o Índice Bovespa cai para a faixa dos 116 mil pontos, após o comunicado do Copom, indicar que o Banco Central tende a manter o ritmo de recuo de meio ponto porcentual da Selic.
Na noite de ontem, o Copom do Banco Central (BC) reduziu a Selic de 13,25% para 12,75% ao ano, como o esperado pelo mercado. No comunicado, o BC fez alertas quanto aos riscos fiscais e afirmou que um ritmo de queda de 0,50 ponto continua sendo "apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário".
A possibilidade de manutenção dessa velocidade joga contra aqueles que chegaram a apostar em uma aceleração, na esteira do IPCA de agosto. A curva futura de juros já reage em alta, assim como o dólar, também seguindo o exterior, onde a maioria dos rendimentos dos títulos dos EUA avança e as bolas americanas e europeias caem. Assim, principalmente ações ligadas ao ciclo econômico reagem negativamente ao Copom. Magazine Luiza ON e Locaweb ON puxam a fila das quedas, com recuos acima de 5,00%.
Fora o petróleo que passou a subir no meio da manhã, o minério de ferro fechou em baixa de 1,90% em Dalian, na China. As ações da Vale caem 1,92% e as da Petrobrás cedicam perto de 0,80%.
Na tarde de ontem, o Fed deixou os juros entre 5,25% e 5,50% ao ano, como indicavam quase todas as projeções. "Não esperava um dia tão estressado, mas já vimos situações parecidas em outras ocasiões. Por ser um dia mais esvaziado em termos de agenda, de acontecimentos está afetando os mercados", avalia José Simão, sócio e head de renda variável da Legend Investimentos.
Conforme Simão, a decisão do Fed em si não teve novidades, mas a sinalização de que o juro ficará alto por mais tempo gerou decepção àqueles que esperavam aperto em algum momento.
Como destaca Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, o que estressa o mercado agora é o sinal de taxa alta por mais tempo do que o esperado. "E isso azeda os mercados."
No caso do comunicado do Copom do BC, houve repetição na parte em que diz que continua a avaliar como apropriado que o ciclo de afrouxamento da taxa ocorra no ritmo de 0,50 ponto porcentual "nas próximas reuniões". Mais uma vez, a sinalização foi unânime.
"O fato de o Banco Central não ter sinalizado um corte de 0,75 ponto à frente é bom para a instituição, que só tem a ganhar com isso. Só de já reduzir juros dá para cantar vitória. Pode até ser que venha algo neste sentido, de um corte de 0,75 ponto na ata, mas, o que o BC ganharia com isso? Nada", avalia Saadia, da Nomos.
O Rabobank espera que o Copom mantenha o ritmo de corte de meio ponto porcentual na Selic à frente e vê a taxa indo a 11,75% no final de 2023 e a 9,25% no fim de 2024, "já que as expectativas de inflação provavelmente levarão mais tempo para convergir para a meta."
Às 11h27, o Ibovespa caía 1,64%, aos 116.753,76 pontos, após mínima aos 116.220,27 pontos (-2,09%) e máxima aos 118.695,09 pontos, com variação zero. Só cinco ações subiam.