Juros: Taxas têm viés de queda com exterior, apesar de PIB acima do esperado

Autor: Denise Abarca (via Agência Estado),
quinta-feira, 01/06/2023

Após oscilarem perto dos ajustes de ontem e sem sinal definido ao longo da sessão, os juros futuros firmaram viés de baixa a partir das 16 horas, acompanhando a melhora do apetite ao risco no exterior, por sua vez, em meio ao aumento das apostas em ações mais "dovish" do Federal Reserve. Em boa parte do dia, andaram de lado, a despeito da agenda forte de indicadores nesta quinta-feira, que teve o PIB com viés desinflacionário. Nem a valorização do câmbio nem o fechamento dos Treasuries foram capazes de influenciar de forma relevante a dinâmica das taxas, num dia também de oferta firme de títulos prefixados no leilão do Tesouro.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13%, de 13,21% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025, em 10,44%, de 11,47%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,86%, de 10,90% ontem. A taxa para janeiro de 2029 ficou em 11,19% (11,24% ontem).

O sinal moderado de baixa na curva se instalou na reta final dos negócios, mas sem um vetor específico, acompanhando a melhora generalizada dos demais ativos, em especial o dólar voltando novamente a R$ 5. Porém, de maneira geral, as taxas vêm oscilando de forma marginal desde o começo da semana, sem ímpeto para uma realização consistente de lucros nem disposição para nova onda de redução nos prêmios de risco, que parece ter se esgotado após a reação à aprovação do arcabouço fiscal na Câmara e ao IPCA-15 de maio.

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, confirma que hoje a curva não teve um fio condutor definido e que o "dia foi da Bolsa", com o PIB e aprovação do acordo para elevação do teto da dívida pela Câmara dos Representantes nos Estados Unidos. "Imaginei que as taxas até iriam fechar com esse PIB, que chancela as apostas de corte da Selic, mas que, por outro lado, também já estavam bem precificadas", comentou.

As taxas chegaram a ter reação pontual de alta ao PIB pela manhã, mas na medida em que os analistas se debruçavam sobre a abertura do dado o impacto foi perdendo força. Prevaleceu sobre a curva a leitura de que o avanço de 1,9% na margem, ante mediana de 1,2% das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, foi puxado pelo aumento da oferta do setor agropecuário, o que reforça a perspectiva favorável para preços de alimentos. A demanda, por sua vez, segue enfraquecida, assim como os investimentos, que deve assim permanecer diante da Selic elevada.

O PIB da Agropecuária saltou 21,60% na margem, enquanto o da Indústria caiu 0,1% e o de Serviços avançou 0,6%. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias (+0,2%) e o do governo (+0,3%), também na margem, ficaram praticamente de lado. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), termômetro do investimento, caiu 3,4%, puxando para baixo a chamada absorção doméstica (-0,5%).

Em relatório, a equipe da Azimut Brasil Wealth Management lembra que esse "choque positivo de oferta", é por definição favorável ao cenário de preços. "Reforça o impacto que o aperto monetário está tendo nas componentes da demanda, e nos deixa mais confiantes da robustez do processo desinflacionário em andamento, que abrirá espaço, no segundo semestre, para o afrouxamento da política monetária", afirmam os economistas da instituição.

Nas mesas de renda fixa, os profissionais afirmam que as oscilações marginais tendem a prevalecer na ausência de gatilhos que possam definir tendência. Lá fora, o payroll americano amanhã tem potencial para mexer com os ativos e colocar em xeque o aumento das apostas na manutenção do juro pelo Federal Reserve em junho, enquanto também vem crescendo a percepção de relaxamento na taxa até o fim de 2023. Nesse contexto, as taxas dos Treasuries hoje cederam, com a da T-Note de dez anos voltando ao nível de 3,60%.

No leilão de prefixados, o Tesouro vendeu integralmente o lote de 17,5 milhões de LTN e de 3,5 milhões de NTN-F. A operação teve risco maior para o mercado, de US$ 896 mil em DV01, de US$ 862 mil na semana passada, segundo a Necton Investimentos.