Os juros futuros terminaram o dia estáveis, com viés de alta que acompanhou o mercado ao longo de toda a sessão, refletindo a cautela generalizada nos ativos decorrente da reavaliação das apostas para o início do ciclo de alívio monetário nos Estados Unidos e na Europa. Internamente, nem o noticiário nem a agenda foram capazes de direcionar as taxas, cujo avanço foi considerado modesto diante da magnitude do ajuste das curvas globais e do dólar atingindo R$ 5 na máxima do dia.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 9,970%, de 9,978% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 subiu de 9,69% para 9,71%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 9,87% (9,86% no ajuste anterior) e a do DI para janeiro de 2029 passou de 10,29% para 10,30%.
O mercado digeriu uma série de declarações de dirigentes de bancos centrais sugerindo que a desaceleração da inflação em seus respectivos domínios ainda não está num nível ótimo de segurança para permitir cortes de juros. Ontem, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ao programa 60 Minutes, da CBS, reafirmou ser "pouco provável" um corte na reunião de março, dado que não deve haver tempo hábil para que se atinja o nível necessário de confiança de que a inflação caminha de forma sustentada para 2%. Em artigo, o presidente da distrital de Minneapolis, Neel Kashkari, em coro a Powell, argumentou que o quadro na economia americana dá tempo aos dirigentes para avaliarem os próximos dados antes de determinar o momento de começar a cortar.
Também no fim de semana, o dirigente do Banco Central Europeu (BCE) Boris Vujcic disse que a instituição terá "paciência" antes de decidir reduzir a taxa básica e, nesta tarde, o economista-chefe do Banco da Inglaterra (BoE), Huw Pill, disse que ainda não é hora para cortar os juros.
Nesse contexto, subiram tanto os rendimentos dos Treasuries quanto os dos bônus da Europa. O yield da T-Note de dez anos avançou de 4,02% na sexta-feira para 4,16% no fim da tarde. As taxas locais foram a reboque, com máximas atingidas no meio da manhã, quando o dólar chegou a rodar nos R$ 5.
O cenário de maior cautela nos bancos centrais dos países desenvolvidos ajuda a limitar as expectativas de uma aceleração do ritmo de queda da Selic para além do 0,5 ponto indicado pelo Copom. "O Banco Central irá sim continuar a cortar a Selic, mas, levando em conta dois fatores, estes cortes tendem a ser menores", afirma o economista André Perfeito, citando a queda menor dos juros nos EUA e uma inflação relativamente baixa no Brasil, mas com o qualitativo pior, com serviços mais pressionados.
Leonardo Cappa, economista-chefe da Traad, afirma que o Copom parece confortável em seguir com a dose de 0,50 ponto e, dado que "não se pode contar com a ajuda do Fed em março", o que sobra como um potencial gatilho para aceleração do ritmo de corte da Selic mais adiante, e que poderia abrir novas rodadas de fechamento tanto no DI quanto nas NTN-B, seria uma melhora na inflação de alimentos. "Algumas consultorias especializadas em agro já veem chance menor de haver um Super El Niño", diz.
Outro ponto de atenção são as projeções de inflação para 2025, depois que o comunicado do Copom endossou que o próximo ano já se sobrepõe a 2024 no horizonte relevante da política monetária. A expectativa do BC é de IPCA 2025 a 3,2%, perto do centro da meta, de 3,0%, mas a mediana do Boletim Focus está há meses estacionada em 3,5%. A pesquisa desta semana será divulgada amanhã, junto com a ata do Copom, para a qual o nível de ansiedade do mercado é baixo.
Na avaliação de Cappa, o documento pode trazer maior detalhamento sobre a percepção para a inflação de alimentos e também do setor externo, que no comunicado foi classificado como marcado pelo debate sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias.