Os juros futuros fecharam a sessão em alta, pressionados desde manhã pelo ambiente doméstico de maior cautela trazido pelos ruídos envolvendo a Petrobras e maior risco fiscal depois do presidente Lula afirmar que quer discutir aumento no limite de gastos. O avanço só não foi mais forte porque os rendimentos dos Treasuries estiveram bem comportados após a leitura do relatório de emprego nos EUA. Em relação à última sexta-feira, os vencimentos curtos acumularam queda moderada e os longos subiram, configurando à curva ganho no nível de inclinação.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 9,890%, de 9,877% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subiu de 9,70% para 9,74%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 9,97% (de 9,90% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 avançou a 10,43%, de 10,34%.
O mercado já abriu com taxas em alta, repercutindo os eventos da quinta-feira no Brasil e também pela cautela antes da divulgação do payroll de fevereiro nos EUA, às 10h30. Destaque da agenda da semana, o documento mostrou geração de vagas acima do consenso, mas também forte revisão para baixo de meses anteriores, aumento inesperado da taxa de desemprego e avanço salarial menor que o previsto, o que levou ao avanço nas apostas de início de corte de juros pelo Federal Reserve em junho. O rendimento da T-Note de 2 anos voltou a rodar abaixo de 4,50% e a taxa do papel de 10 anos ficou de lado, na marca de 4,08%.
Se o desempenho dos títulos do governo dos EUA não conseguiu aliviar a curva local, ao menos evitou um estresse ainda pior, disse um operador de renda fixa. "Alguns investidores até ameaçaram vender, mas desistiram porque ficaram com medo dos próximos passos do governo", afirmou, referindo-se ao noticiário envolvendo a Petrobras e as declarações de Lula, dadas num momento em que o governo enfrenta dificuldades para sustentar a meta de primário zero em 2024.
O mercado reagiu muito mal à confirmação de que a Petrobras não pagará dividendos extraordinários, decisão que acentuou o temor de ingerência política na estatal, "a despeito de sinalização de que serão alocados como reserva de capital para uma eventual distribuição futura dos dividendos", afirma Eduardo Velho, economista-chefe e sócio da JF Trust.
Ao mesmo tempo, Lula destacou ontem que a "arrecadação está aumentando além daquilo que muita gente esperava" e que poderá levar ao Congresso a discussão sobre aumento do limite de gastos. "Vamos ver como é que a gente pode utilizar mais dinheiro para fazer mais benefício para o povo", disse.
Velho, da JF Trust, lembra também que o mercado vem se preparando para a mudança no forward guidance do Copom nas próximas reuniões. Na medida em que o ciclo de afrouxamento monetário vai avançando, é mais arriscado para os diretores se comprometerem com qualquer indicação. "O que em nossa avaliação é prudente, pois o balanço de riscos pode se alterar em 30 a 40 dias. Isso também pode ser um sinal de que o terreno está sendo preparado para reduzir o ritmo de cortes da Selic de 50 pontos para 25 pontos até o final desse semestre", disse. O forward guidance por ora aponta mais duas reduções da Selic em 0,5 ponto porcentual, em março e em maio.