Os juros futuros fecharam a segunda-feira, 12, em alta. O movimento esteve atrelado ao risco que o mercado vê para as contas públicas na gestão Lula, com destaque hoje para especulações em torno da possível nomeação do ex-ministro Aloizio Mercadante para o comando da Petrobras ou do BNDES e revogação da Lei das Estatais. Além disso, a agenda pesada da semana, com reuniões de política monetária na Europa e nos Estados Unidos, votação da PEC da Transição e possível anúncio da equipe econômica de Fernando Haddad na Fazenda, também amparou a postura defensiva dos investidores.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou a 13,880%, de 13,805% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 13,08% para 13,30%. O DI para janeiro de 2027 encerrou em 13,05%, de 12,86% no ajuste anterior. A partir de hoje, vigora o novo modelo de cálculo de ajuste dos contratos na B3 e, com isso, as sessões agora serão contínuas até as 18h.
O mercado já começou o dia com sinal moderado de alta em função das expectativas para os eventos da semana, mas mudou de patamar quando chegaram às mesas rumores de que Mercadante seria um nome forte para ocupar a presidência da Petrobras e que uma alteração na Lei das Estatais estaria na pauta do novo governo. A preocupação teria começado com um relatório do Eurasia Group que circulou hoje dando conta de que Lula deve derrubar a Lei por meio de uma Medida Provisória. O Broadcast apurou que o ministro indicado para a Fazenda, Fernando Haddad, recebeu o material momentos antes de chegar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a diplomação de Lula e Alckmin. Haddad deve comentar o assunto amanhã em entrevista.
Sobre Mercadante, na sexta-feira à noite, o Estadão já havia informado que ele estaria motivado a assumir o BNDES. Seja no banco ou na petroleira, é mais um nome visto como indigesto, por seu perfil considerado heterodoxo, associado à ala desenvolvimentista do PT e à nova matriz econômica da gestão Dilma. No caso da Petrobras, sob a ótica do mercado de juros, há preocupação com possíveis malabarismos para segurar preços que no futuro se mostram insustentáveis e acabam tendo efeito nocivo sobre a inflação. No caso do BNDES, o temor são possíveis medidas parafiscais. "O tamanho do parafiscal - via crédito direcionado do BNDES etc.- de especial relevância para a calibragem da taxa neutra da economia", diz, em relatório, a economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal.
Quando perguntado, Mercadante não quis comentar os rumores sobre seu nome, mas sobre a Lei disse desconhecer qualquer discussão sobre a possibilidade de alterar a legislação, que veda a indicação para presidência de quem atuou em estrutura decisória de partidos políticos nos últimos 36 meses. A negativa do ex-ministro até chegou a provocar certa despressurização moderada e pontual nas taxas, mas depois voltaram a ganhar ímpeto. No fim do dia, o ex-ministro e integrante do Grupo de Trabalho (GT) de Economia na transição, Nelson Barbosa, disse que o grupo não discutiu mudanças.
As especulações sobre Mercadante chegam num momento em que o mercado ainda tenta se acostumar à ideia de Haddad na Fazenda, mas apostando num segundo escalão com características mais ortodoxas. "Com a escolha de um quadro petista, o contraponto seria feito via indicação de um nome alinhado com o mercado", afirmaram profissionais da Levante Investimentos, citando, entre os favoritos, até o momento, o economista André Lara Resende e Gabriel Galípolo.
A semana que está só começando reserva ainda a votação da PEC na Câmara. No fim da sessão, a expectativa de que a votação, prevista para quarta-feira, possa ser adiada tirou um pouco da pressão da curva, com o mercado apostando em nova desidratação do texto. E amanhã a ata do Copom. No documento, o mercado espera obter mais detalhes da avaliação do Banco Central sobre o risco fiscal apontado no comunicado da reunião da última quarta-feira.