Juros: taxas recuam com Powell, fala de Haddad e expectativa por IPCA

Autor: Denise Abarca (via Agência Estado),
terça-feira, 09/07/2024

Os juros futuros fecharam em queda firme e mais acentuada nos vencimentos intermediários, após alternarem movimentos de alta e baixa durante boa parte da sessão. O discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que, embora tenha evitado sinalizar a direção da política monetária, deixou no mercado a sensação de que o próximo movimento é mesmo de queda nos juros. Na reta final, as taxas renovaram mínimas após declarações do ministro da Fazenda, Fernand Haddad, e com parte do mercado antecipando posições à espera do IPCA de junho, amanhã.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,570%, de 10,596% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 cedia de 11,25% para 11,17%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,45% (de 11,56%) e a do DI para janeiro de 2029 caía a 11,83%, de 11,91%.

A economista-chefe da CM Capital, Carga Argenta, explica ainda que a ausência de dados econômicos no dia potencializou nos ativos o impacto do discurso de Powell, que prestou testemunho no Senado americano. Powell logo avisou que não daria sinalização sobre o rumo dos juros, mas o mercado tentou inferir a partir da leitura que o presidente do Fed fez da conjuntura econômica.

"Na avaliação dele, o mercado de trabalho, mesmo com características semelhantes ao pré-pandemia, não mostra excessos que exigissem correção pela via monetária. Parece que chegamos a um equilíbrio e um próximo passo seria a queda de juros", pergunta Argenta, lembrando que a indicação de Powell foi a de que o início do ciclo não necessariamente precisa esperar a inflação chegar a 2%. "Pode começar ao longo do processo de convergência."

Num primeiro momento, os juros dos Treasuries aceleraram a alta e o dólar ganhou força. Porém, o movimento perdeu ritmo, após o Departamento do Tesouro dos EUA leiloar US$ 58 bilhões em T-notes de 3 anos com demanda acima da média recente. No fim da tarde, o yield da T-Note de 10 anos voltava a rodar abaixo de 4,30%. Ao mesmo tempo, o dólar no Brasil ampliava o recuo, fechando mais perto dos R$ 5,40, a R$ 5,4149.

Pela manhã, a expectativa pelo discurso de Powell e a oferta maior de NTN-B do Tesouro estimularam uma realização de lucros na curva, que devolveu bastante prêmio na semana passada depois do governo determinar que o arcabouço fiscal seja preservado a todo custo e indicar quase R$ 26 bilhões que poderiam ser reduzidos no Orçamento de 2025.

Argenta afirma que tanto os níveis de precificação de alta da Selic nos DIs quanto o dólar a R$ 5,70 estavam exagerados e não espelhavam os fundamentos da economia. "Amanhã teremos o IPCA de junho e a expectativa é positiva para o dado", apontou. Pela mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, a inflação vai desacelerar a 0,32%, após 0,46% em maio.

No fim do dia, parte do mercado buscou justamente se antecipar a uma possível surpresa benigna com o dado e as taxas tocaram as mínimas do dia, embaladas ainda pela fala de Haddad sobre o projeto de lei da dívida dos Estados. O ministro demonstrou firmeza no propósito de evitar que o projeto tenha impacto primário nas contas do governo. "Temos de assegurar isso de qualquer jeito ou vai gerar uma série de problemas nas contas nacionais. Não estamos em condições de errar nesse quesito", disse.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, diz que a renegociação da dívida não deveria ter impacto primário porque é uma renegociação dentro do setor público, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse, na entrega do PL que os Estados podem ter um desconto adicional se gastarem com educação e saúde. "Aí tem uma piora de resultado primário", comentou.

O Tesouro trouxe um leilão de NTN-B de maior risco para o mercado, com DV01 de US$ 402 mil, muito acima dos US$ 70 mil da semana passada. A oferta de 800 mil títulos foi vendida integralmente, com taxas abaixo do consenso de mercado.