Juros: Taxas de DI seguem Treasuries e caem após altas recentes e decisão da Moody's

Autor: Gustavo Nicoletta e Denise Abarca (via Agência Estado),
terça-feira, 01/10/2024

Depois de um avanço significativo em setembro, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) começaram outubro em queda, acompanhando o movimento dos juros dos Treasuries, que refletiram o aumento na busca por ativos seguros diante de um ataque a mísseis do Irã contra Israel. A ofensiva era esperada há dias, depois de o governo israelense ter bombardeado o Líbano e matado o líder do Hezbollah no fim de semana.

No fim do pregão, a decisão da agência de classificação de risco Moody's de elevar a nota de crédito do Brasil para Ba1, apenas um nível abaixo do chamado grau de investimento, também contribuiu para as perdas, levando algumas das taxas a aprofundarem o ritmo de queda e a terminarem o dia nas mínimas da sessão.

O estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, viu o movimento da curva hoje totalmente associado ao risco de uma guerra mais aberta no Oriente Médio e se surpreendeu com o desempenho positivo dos mercados pela manhã. "Parecia que não estavam sentindo o risco de guerra por procuração, com Israel lutando contra grupos armados, se transformar numa guerra regional contra o Irã, o que é algo completamente diferente. Mas há uma escalada", avalia.

Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group, considerou que o recuo nas taxas de DI foi "puramente externo", dado que no mercado doméstico os fundamentos justificam a abertura dos juros, e não o contrário.

"A nossa curva de juros está muito relacionada ao fiscal. O que está atrapalhando o nosso mercado é a gente mesmo, não é mais o mundo, que está bastante positivo para emergentes", disse Miraglia, citando o pouso suave da economia dos Estados Unidos e os estímulos da China ao setor imobiliário.

Nem mesmo os preços do petróleo, que hoje chegaram a subir mais de 5% por causa da tensão no Oriente Médio, estão contribuindo para a abertura da curva no momento, segundo o economista. "Até US$ 80 por barril é neutro para a inflação mundial e para o Brasil, e abaixo disso ajuda", afirmou. Em setembro, o valor médio do petróleo Brent foi de aproximadamente US$ 72,50 por barril.

Marcela Kawauti, economista-chefe da gestora Lifetime, ponderou que o recuo de hoje nas taxas embute também um respiro após o forte avanço acumulado em setembro. "Os DIs já tinham puxado bastante e, apesar da piora lá fora, que impulsionou o dólar, teve correção por conta da acomodação. Talvez se a gente não tivesse a piora do risco geopolítico hoje a acomodação pudesse ter sido um pouco maior."

Diante do exterior turbulento, os comentários do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, feitos antes do ataque do Irã a Israel não provocaram reação do mercado.

Além do risco de conflito ampliado no Oriente Médio, fica no radar dos investidores nos próximos dias a divulgação dos dados sobre a produção industrial de agosto, amanhã, e, principalmente, os números do payroll sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos, que serão publicados na sexta-feira (4).

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 caiu a 12,225%, de 12,324% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 recuou a 12,255%, fechando na mínima da sessão, de 12,379% ontem, e a taxa para janeiro de 2029 caiu a 12,340%, também no menor nível do dia, de 12,457%.