O mercado de juros começou a semana sob volatilidade, tentando corrigir parte das altas consideradas exageradas da semana passada, mas tendo como limitação o cenário de incertezas fiscais, a pressão do câmbio e da deterioração das expectativas de inflação. As taxas curtas, principalmente, estiveram em baixa durante boa parte da sessão, mas reduziram o fôlego no meio da tarde, enquanto a ponta longa tentava permanecer nos níveis dos ajustes anteriores, porém chegava ao fechamento com alta moderada.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 cedeu de 13,96% no ajuste de sexta-feira para 13,88%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 14,08%, de 14,05% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 13,86% (de 13,80).
O DI para janeiro de 2026 foi o destaque da segunda-feira, por mostrar um comportamento mais uniforme, de baixa. Este é o vencimento que capta a percepção dos agentes para as reuniões de política monetária em 2025 e vinha sendo penalizado nas últimas sessões pelo aumento das apostas em um Copom mais agressivo nos próximos meses. A curva chegou a precificar taxa terminal bem próxima a 15%, mas nesta tarde estava em 14,75%.
O economista Victor Beyruti, da DA Economics, afirma que as taxas estavam muito esticadas e o mercado aproveitou para reduzir excessos, apesar da alta do dólar e dos juros dos Treasuries. "Temos um ajuste técnico aparando exageros e o mercado tirando um pouco do radar a possibilidade de alta de 100 pontos-base nas próximas reuniões", disse.
O espaço para correção foi pavimentado ainda na sexta-feira com a sinalização do Congresso de que a discussão sobre o aumento da faixa de isenção da cobrança de imposto de renda para rendimentos até R$ 5 mil ficará para o próximo ano. Além disso, foram bem recebidas as indicações para as diretorias do Banco Central (BC), especialmente a de Nilton David, da tesouraria do Bradesco, para a Política Monetária.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, reiterou hoje que a agenda de discussão sobre ampliação da faixa de discussão do IR é algo para 2025. A declaração foi feita em evento da XP Investimentos, em São Paulo, do qual também participou o diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo.
Galípolo reforçou o papel da instituição de reancorar as expectativas de inflação e disse que no descolamento ante as metas há um elemento estrutural, que não responde à ideia de um BC passivo, ainda que exista um movimento conjuntural nas últimas semanas. "Esse é um processo de desancoragem, que já está aí há algum tempo e que nos incomoda há bastante tempo."
Semana a semana as medianas de IPCA vêm se desgarrando dos 3% e, em alguns recortes, dos 4,5% que é o teto da meta de inflação, mesmo com o mercado ajustando também para cima as expectativas de Selic. A mediana para 2024 atingiu 4,71% e a de 2025, 4,40%. As de 2026 e 2027 foram para 3,81% e 3,50%. A projeção de Selic em 2024 manteve-se em 11,75%, mas a de 2025 (12,25% para 12,63%) e de 2026 (10,00% para 10,50%) subiram.