Os juros fecharam a sexta-feira, 30, a semana e o mês em queda. A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de ontem continuou repercutindo positivamente hoje sobre a curva, que foi influenciada ainda pelo ambiente externo, pela redução dos preços da gasolina e ajustes de carteiras típicos de fechamento de semestre. A manutenção da meta de inflação em 3% para os próximos anos provocou uma onda de revisões para baixo de IPCA e Selic e a aposta num corte da taxa em 0,50 ponto porcentual em agosto já é levemente majoritária na precificação da curva.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou a 12,850%, de 12,924% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 10,87% para 10,74%%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 10,11%, de 10,32% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2029 cedeu de 10,66% para 10,42%. Com isso, estes vértices seguem renovando os pisos desde 2021.
Ainda que a decisão do CMN tenha saído ontem com o mercado ainda aberto, puxou hoje uma nova rodada de queda nas taxas em geral, seja pelo novo alívio nas expectativas de IPCA, seja pela percepção de que o Copom pode começar o ciclo de cortes da taxa básica de forma um pouco mais agressiva, além de um possível orçamento maior de quedas. "O mercado já está colocando na conta quedas de juro mais rápidas e a discussão é se em agosto pode vir corte de 50 pontos, apesar do BC falar em 'parcimônia'", observou o economista da MAG Investimentos Felipe Rodrigo de Oliveira.
No meio da tarde, a curva precificava 60% de chance de redução da Selic em 50 pontos em agosto, contra 40% de probabilidade de 25 pontos, num quadro que ontem era justamente o inverso. Para o fim de 2023, a indicação é de Selic entre 11,50% e 11,75% e para o fim de 2024 a precificação é de 8,95%, ou seja, 9%. Os números foram fornecidos pelo Banco Mizuho.
Para o economista-chefe do PicPay, Marco Antônio Caruso, a manutenção da meta foi o maior acerto da equipe econômica até o momento, abrindo espaço para uma redução das expectativas por uma janela maior de tempo. "O IPCA do Focus tem implícito uma meta que estava perto de 3,5%, fruto da incerteza que existia sobre o que faria o CMN. Não é coincidência que as projeções começaram a piorar justamente desde meados de janeiro, quando o presidente Lula levantou a possibilidade de subir a meta pela primeira vez", avaliou, no Podcast Diário Econômico.
Outro vetor baixista para as taxas foi a redução do preço da gasolina em 5,3% anunciado hoje pela Petrobras, válido a partir de amanhã. Economistas calculam impacto de queda entre 0,11 e 0,13 ponto porcentual na inflação, integralmente no IPCA de julho.
Até o exterior, ontem negativo, hoje colaborou para o fechamento da curva local. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, em inglês) dos Estados Unidos em maio, medida preferida de inflação o Federal Reserve, veio em linha com o esperado, com núcleo ligeiramente melhor do que as projeções, aliviando momentaneamente as tensões com a postura do Federal Reserve. O dólar teve queda generalizada e os yields dos Treasuries de longo prazo caíram.
O rali desta sexta-feira coroou uma semana muito positiva para o mercado de juros, que começou com a ata "dovish" do Copom, passando pelo Relatório de Inflação (RI) que mostrou que a projeção de IPCA do BC caiu a 3,1% para 2025, pela entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na qual admitiu otimismo sobre o cenário para as expectativas e deixou as portas abertas para reduzir a Selic, e culminou com o CMN ontem dissipando as incertezas do mercado sobre a meta de inflação.
Não à toa, houve forte redução da inclinação da curva na semana, com as taxas médias e longas caindo mais do que as curtas. Desde a última sexta-feira, o DI para janeiro de 2024 devolveu 15 pontos; o DI para janeiro de 2025, 27 pontos; e o DI para janeiro de 2027, 28 pontos. No mês, o alívio foi ainda maior, de 37, 78 e 83 pontos, respectivamente, em relação ao fim de maio.