Nesta tarde a balança comercial brasileira registrou déficit em fevereiro, contrariando expectativas de superávit, e reforçou a leitura do mercado de que a economia passa por um processo de desaceleração. O principal fator desta tese foi o Produto Interno Bruto do quarto trimestre de 2024, divulgado nesta manhã, que inclusive fez o Goldman Sachs reduzir a previsão de alta para o PIB real de 2025, de 2,1% para 1,7%. Assim, o fechamento da curva de juros foi consistente do início ao fim do pregão, precificando uma Selic terminal próxima de 15% e com o vértice longo cedendo 28 pontos-base.
A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu para 14,740%, de 14,804% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 cedeu para 14,570%, de 14,772%, e o para janeiro de 2029 recuou para 14,535%, de 14,816% no ajuste de ontem.
O fator-chave para a queda dos juros futuros nesta sexta-feira veio logo pela manhã, quando o PIB do quarto trimestre de 2024 cresceu 0,2% ante o terceiro trimestre, abaixo da mediana do Projeções Broadcast de 0,4%.
"O mercado encontrou uma revelação no PIB do quarto trimestre de 2024, de que a economia de fato está arrefecendo. Então 2025 será um ano de arrefecimento na dinâmica da atividade, e isso é bem-vindo aos olhos de um Banco Central que persegue seu compromisso de buscar a convergência da inflação ao centro da meta", afirma o estrategista-chefe da BGC Liquidez, Daniel Cunha.
O Citi estima que o PIB do primeiro trimestre deste ano deve ser beneficiado pela colheita bastante robusta de soja, mas reforça que, após esse período, a expectativa é de que o crescimento trimestral da economia retome a tendência de desaceleração vista no quarto trimestre de 2024.
À tarde, a balança comercial apontou déficit de US$ 323,7 milhões em fevereiro "e deu mais fôlego para o fechamento dos juros, pois a balança faz parte da fórmula do PIB", observa o diretor de Investimentos da Nomos, Beto Saadia.
Contudo, o saldo comercial de fevereiro só foi negativo por conta da compra de uma plataforma de petróleo, segundo o diretor de Planejamento e Inteligência Comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Herlon Brandão.
Mais cedo, os dados do mercado de trabalho (payroll) dos Estados Unidos vieram abaixo do esperado e também indicaram certa desaceleração da economia. À tarde os juros dos Treasuries ganharam fôlego, beneficiados por um apetite a risco após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmar que a economia dos Estados Unidos "está em bom lugar".
Motivo de receio na véspera, as medidas do governo federal para reduzir o preço dos alimentos acabaram não fazendo preço, segundo operadores.