Apesar dos reajustes da gasolina e da energia elétrica, a inflação desacelerou em março, o que ajudou, entre outros fatores, a derrubar ontem as taxas de juro futuras e a impulsionar os negócios na Bolsa de Valores na terça-feira, 11. Medido pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 0,84%, em fevereiro, para 0,71% no mês passado.
O resultado veio, praticamente, no piso das estimativas dos analistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), que previam um avanço entre 0,69% e 0,85%, com mediana de 0,77%. Já em 12 meses, a taxa caiu de 5,60%, em fevereiro, para 4,65% em março - a menor variação desde janeiro de 2021.
Chamou a atenção do mercado o fato de o resultado ter ficado dentro do teto de tolerância da meta de inflação para este ano, que é de 4,75%. A última vez que isso aconteceu foi em fevereiro de 2021: variação de 5,20% em 12 meses até aquele mês, ante teto de 5,25% no ano.
Formalmente, para determinar se a meta foi ou não cumprida é necessário considerar a variação dos preços de janeiro a dezembro no ano. Esse alvo não foi alcançado pelo Banco Central nos últimos dois anos, e as estimativas do mercado ainda mostram que a situação deve se repetir agora em 2023.
"O que a gente percebeu na passagem de fevereiro para março foi uma desaceleração e menor disseminação de alta de preços no IPCA", afirmou André Almeida, analista do IPCA no IBGE. "Além de ter vindo abaixo das expectativas, o IPCA de março também é uma boa notícia do ponto de vista qualitativo, com a média do núcleos (de preços) recuando para 0,36%, de 0,72% anterior", complementou Darwin Dib, economista-chefe da Gauss Capital.
Mercado
Na Bolsa, a alta dos negócios veio ainda pela manhã, com o anúncio do IPCA. A primeira avaliação é de que os sinais de menor pressão sobre os preços poderia levar o BC a rever o aperto dos juros. No fim do dia, o Ibovespa fechou aos 106,2 mil, com alta de 4,29% - a maior desde 3 de outubro. Dos 88 papéis que compõem o índice, 85 tiveram valorização.
Operadores também citaram avaliações mais favoráveis sobre a nova âncora fiscal e novos sinais de maior atividade na China. Nesse ambiente, a taxa do CDI para janeiro de 2024 caiu de 13,22% para 13,15%, enquanto o de janeiro de 2025 recuou de 11,99% para 11,8%.
Já o dólar, que pela manhã chegou a valer menos de R$ 5, fechou o dia em R$ 5,0072 (-1,16%), menor cotação desde 10 de junho. A forte entrada de dólares no País ajudou a conter as cotações.
Para a XP Investimentos, o resultado do IPCA trouxe uma mensagem positiva, ainda que não tenha alterado o cenário da corretora de que o BC comece o ciclo de cortes na Selic apenas no terceiro trimestre do ano.
Já a agência de classificação de risco Austin Rating espera que o BC reduza a Selic a partir de junho, com a taxa de juros fechando o ano em 11,75%.
Após a divulgação do IPCA, a Austin Rating diminuiu sua projeção para a inflação de 2023, de 6,08% para 5,80%, e a de 2024, de 4,08% para 3,91%.
"Em boa parte, a revisão (de 2023) recai sobre a forte queda dos preços dos alimentos no atacado, já observada nas primeiras parciais de abril", afirmou o economista-chefe da Austin, Alex Agostini.
Preços
Em março, os alimentos comprados em supermercados ficaram mais baratos, assim como alguns eletrodomésticos, TVs e computadores. Por outro lado, o encarecimento da gasolina e da energia elétrica foi responsável por dois terços da inflação oficial no País no mês.
A gasolina subiu 8,33%, com impacto de 0,39 ponto porcentual sobre o IPCA. A energia elétrica subiu 2,23%, contribuição de 0,09 ponto porcentual. Sem esses dois aumentos, o IPCA de março teria sido de 0,25%, calculou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
Na outra ponta, os itens que mais ajudaram a frear a inflação em março foram passagem aérea, batata-inglesa, maçã e banana-prata. O grupo Alimentação e Bebidas saiu de um aumento de 0,16%, em fevereiro, para uma elevação de 0,05% em março.
O freio foi influenciado pela queda de 0,14% no custo da alimentação consumida no domicílio. Houve reduções relevantes na batata-inglesa (-12,80%), óleo de soja (-4,01%), cebola (-7,23%), tomate (-4,02%) e carnes (-1,06%).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.