Ibovespa sobe 1,09%, a 128,5 mil pontos, e avança 1,57% na semana

Autor: Luís Eduardo Leal (via Agência Estado),
sexta-feira, 03/05/2024

Com a desaceleração na geração de vagas de trabalho nos Estados Unidos em abril, a 175 mil, e o leve aumento na taxa de desemprego no mês, a 3,9%, a curva de juros norte-americana passou por novo ajuste de baixa nesta sexta-feira, trazendo o rendimento dos Treasuries de 10 anos para a marca de 4,5% e desencadeando apetite por renda variável, lá como aqui. Na B3, como na quinta-feira, o Ibovespa operou em alta desde a abertura, nesta sexta aos 127,1 mil, e fechou o dia com ganho de 1,09%, aos 128.508,67 pontos, maior nível desde o encerramento de 9 de abril, então perto dos 129,9 mil. Em Nova York, a alta do dia ficou entre 1,18% (Dow Jones) e 1,99% (Nasdaq).

Na B3, tão importante quanto o nível de fechamento desta sexta-feira foi o giro financeiro, que avançou para R$ 27,8 bilhões, em patamar que tem sido raramente visto fora das datas de vencimento de opções sobre o Ibovespa ou sobre ações. Nesta semana de transição de abril para maio, o índice da B3 acumulou ganho de 1,57%, e nas duas primeiras sessões do novo mês avança 2,05%, reduzindo a perda do ano a 4,23%. Assim, engata duas semanas no positivo, algo não visto desde março, após avanço de 1,12% na semana anterior.

Para o payroll (relatório de emprego dos EUA), destaque da agenda, "o mercado projetava 240 mil postos de trabalho" e a leitura a 175 mil para abril foi a "menor em seis meses", ressalta o economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, mencionando outros fatores no sentido de uma aguardada descompressão do mercado de trabalho norte-americano, buscada de certa forma pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) ao manter a política monetária em condições restritivas para que a meta oficial de inflação, de 2% ao ano, seja atingida.

A leitura mais branda sobre a geração de vagas e sobre a evolução do ganho salarial médio chega em momento de reprecificação global dos ativos a partir da percepção de onde poderão estar os juros americanos no fim de 2024. Além da taxa de desemprego marginalmente mais alta - em março estava em 3,8% - e da criação de vagas de trabalho abaixo do esperado para abril, "a remuneração média por hora aumentou 0,2% em abril e 3,9% em 12 meses, também abaixo das projeções", diz Eyng.

Apesar do relativo desaquecimento do mercado de trabalho americano em abril, o economista considera que haverá apenas um corte da taxa do Fed este ano, de 0,25 ponto porcentual, em dezembro - na última quarta-feira, conforme esperado, o BC norte-americano manteve pela sexta vez consecutiva a taxa de juros de referência na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. "O mercado está ainda dividido, alguns se reposicionaram para setembro, mas mantenho a expectativa de que virá apenas em dezembro", acrescenta.

"Dois pontos favorecem a possibilidade de mais cortes na taxa de juros dos EUA. Há muitos dados econômicos a serem divulgados, e é provável que apenas na segunda metade do ano se verifique um alívio mais expressivo em relação à inflação. E a partir da metade de 2024 o Federal Reserve precisará considerar o impacto das taxas de juros em 2025. Esses fatores podem propiciar não apenas um corte adicional na taxa de juros, mas também uma atuação mais proativa do Fed ainda em 2024", diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Na B3, nesta sexta-feira, o avanço na casa de 1% no Ibovespa foi garantido mesmo com a fraqueza das ações mais pesadas do índice, Vale (ON +0,11%) e especialmente Petrobras (ON -1,57%, PN -1,34%). No setor metálico, destaque positivo após o balanço trimestral para o forte avanço de Gerdau (PN +5,53%) e de Gerdau Metalúrgica (+5,35%) e, entre os grandes bancos, para BB (ON +1,84%) e Itaú (PN +1,26%). Na ponta do Ibovespa, Azul (+7,78%), Magazine Luiza (+7,53%) e Yduqs (+6,87%). No lado oposto, Prio (-1,41%) e PetroReconcavo (-1,15%), além das duas ações de Petrobras - em dia negativo para as cotações do petróleo, que cederam 6% ao longo da semana, com a redução das tensões no Oriente Médio.

No quadro mais amplo, "com o payroll enfraquecido, o mercado volta a apostar em Selic entre 9% e 9,5% no fim do ano, puxando as ações do setor de consumo principalmente, como Magalu, e construtoras como EzTec (+6,01%) e Cyrela (+5,93%). E Azul também 'performou' bem hoje com a notícia que o governo pode criar um fundo permanente para ajudar o setor de aviação", diz Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

"O pessimismo do início da semana deu lugar a otimismo no fim do período, em uma semana com muitos dados e destaque para o payroll desta sexta-feira, com geração de vagas abaixo do esperado, o que traz alívio com relação à chance de que o Federal Reserve possa, em setembro, iniciar os cortes de juros", diz Fernanda Bandeira, sócia da Blue3 Investimentos.

"O relatório oficial de emprego nos Estados Unidos, mais fraco em abril, sugere que o Fed venha a iniciar, enfim, os aguardados cortes de juros, passo importante para mercados emergentes, como o Brasil, que são particularmente afetados pelos juros altos nos Estados Unidos", diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Nesse contexto, a perspectiva para o desempenho do Ibovespa na próxima semana adquiriu um tom mais otimista na edição desta sexta-feira do Termômetro Broadcast Bolsa. Desta vez, 66,67% dos participantes indicaram tendência de alta para o próximo período e os demais 33,33% apontaram estabilidade para o índice, sem apostas em queda. Na semana passada, 28,57% esperavam alta, 42,86% apontavam estabilidade do índice e 28,57% indicaram queda.