Na contramão do sinal moderadamente negativo na retomada dos negócios em Wall Street, após o feriado de ontem pela Independência americana, o Ibovespa chegou a acentuar ganhos ao longo da tarde e a retomar a marca dos 120 mil pontos, em região de resistência importante para que dê prosseguimento à recuperação que ganhou impulso em junho, com o avanço de 9% no mês - salto que pode favorecer pausa, para consolidação, nesta virada para julho.
Assim, o Ibovespa tem alternado perdas e ganhos a cada sessão desde o último dia 28, em que tocou a mínima recente, aos 116,6 mil pontos, concluindo então três recuos diários seguidos. Hoje chegou a esboçar, mas não conseguiu sustentar em fechamento o nível de 120 mil, atingido em 21 de junho, há duas semanas, então no seu maior patamar de encerramento desde 4 de abril de 2022.
No fechamento desta quarta-feira, a referência da B3 mostrava alta de 0,40%, aos 119.549,21 pontos, entre mínima de 118.688,39 e máxima de 120.199,87, saindo de abertura aos 119.072,03 pontos. Moderado, o giro financeiro ficou em R$ 23,3 bilhões na sessão. Nesta primeira semana de julho, o Ibovespa ganha 1,24%, colocando a 8,94% a alta acumulada no ano.
A recuperação em curso - que elevou o Ibovespa de 110,5 mil pontos no fechamento de 1º de junho aos 120 mil que ora busca romper - tem sido acompanhada por acomodação do dólar na casa de R$ 4,85, bem como dos DIs futuros: uma correlação que tem refletido a melhora na percepção dos agentes quanto a variáveis como inflação, crescimento econômico doméstico e avanço de pautas de interesse econômico no Congresso.
Dando sustentação ao índice na sessão, Petrobras chegou a inverter o sinal e subir no começo da tarde. Até então, as ações da estatal destoavam do avanço do Brent e do WTI nesta quarta-feira, mas ganharam impulso com a apuração do Broadcast de que a estatal deve manter o pagamento de dividendos referentes ao segundo trimestre com periodicidade trimestral e na casa dos dois dígitos - além de uma recompra de ações em 2023, o que deu impulso, ainda que transitório, aos papéis da empresa. No fechamento, contudo, prevaleceu mesmo sinal negativo para ON (-0,03%) e PN (-0,13%), impedindo o Ibovespa de sustentar os 120 mil pontos no encerramento.
À tarde, a Petrobras informou que o conselho de administração, em reunião realizada em 11 de maio, determinou que a diretoria executiva elaborasse uma proposta de aperfeiçoamento da política de remuneração aos acionistas, incluindo a possibilidade de recompra de ações. E ressaltou que os estudos para o aperfeiçoamento da política de remuneração continuam em andamento, sem ainda qualquer decisão da diretoria executiva ou deliberação do conselho. "Dessa forma, a Companhia entende que as informações relevantes foram devidamente divulgadas ao mercado, não havendo fato novo a ser reportado", conclui a estatal.
Destaque, hoje, para frigoríficos como Marfrig (+4,92%) e especialmente BRF (+10,28%) - que acentuou alta e entrou em leilão, durante a sessão, com o 'follow on' anunciado esta semana pela empresa. IRB (+7,13%), MRV (+6,67%), Arezzo (+4,55%) e JBS (+3,65%) completaram a lista de maiores valorizações do dia na carteira Ibovespa. No lado oposto, Braskem (-4,42%), Azul (-3,12%) e Raízen (-2,72%).
O dia foi misto para as ações de grandes bancos (Itaú PN +0,87%, Bradesco PN +0,18%, BB ON -0,66%, Santander Unit -1,43%), assim como para o setor metálico (Vale ON -0,88%, Gerdau PN -0,39%, Usiminas PNA +0,82%).
"As empresas correlacionadas à economia local fizeram o Ibovespa avançar na sessão, com melhora das expectativas em relação a pontos da agenda doméstica, como a reforma tributária que pode ser votada esta semana. O setor de proteína também foi muito bem, com o 'follow on' de R$ 500 milhões na BRF, que colocou a ação da empresa em alta de 10% na sessão, beneficiando também a da Marfrig, além das de JBS e Minerva (+2,44%)", aponta Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, destacando ainda os ganhos em ações do setor de consumo, com a expectativa por Selic mais baixa no segundo semestre.
Assim, o ICON fechou o dia com ganho de 1,34%, enquanto o de materiais básicos (IMAT), que concentra ações expostas a preços e demanda externos, cedeu 0,71% nesta quarta-feira.
"As empresas de segunda linha, mais cíclicas e ligadas ao setor doméstico, tiveram avanço expressivo. Nos últimos 18 meses, as blue chips tinham ficado à frente, no movimento, e essas empresas, para trás - e agora vemos uma recuperação mais agressiva no segmento", diz Felipe Jaguaribe, sócio da Legend Capital, destacando o avanço das 'small caps', ações de menor capitalização de mercado, em alta de 16% no ano, superior ao avanço perto da casa de 9% para o Ibovespa no mesmo intervalo.
"Dados de inflação sequencialmente mais baixos, e com o arcabouço fiscal praticamente finalizado na tramitação pelo Congresso - o que retira o risco de cauda em relação a uma explosão da dívida pública -, favorecem essa 'segunda pernada' da Bolsa, depois também de ata do Copom bastante vocal em relação à chance de redução de juros em agosto, ainda que parcimoniosa", acrescenta. "O cenário é benigno para Bolsa, que continua barata", conclui Jaguaribe.
Por outro lado, lá fora, a ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, divulgada no meio da tarde, trouxe "mais clareza" quanto à trajetória dos juros americanos, diz Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos. "Ainda há espaço para novos aumentos de juros nos Estados Unidos, mesmo que em menor magnitude", acrescenta.