Com forte apoio de Petrobras (ON +5,70%, PN +5,33%), o Ibovespa obteve o terceiro ganho diário do mês, e o segundo consecutivo, retomando o nível de 118 mil pontos, não visto em fechamento desde o último dia 11. Ao fim, a referência da B3 mostrava alta de 1,70%, aos 118.134,59 pontos, entre mínima de 116.158,89 e a máxima do dia no encerramento da sessão, em que saiu de abertura aos 116.159,67, quase idêntica ao piso. O giro financeiro subiu para R$ 25,3 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 2,36%, limitando as perdas de agosto a 3,12% - no ano, o índice sobe 7,65%. Desde o início da tarde, a acentuação de máximas na B3 acompanhou o movimento de Nova York, onde o índice amplo, S&P 500, e o tecnológico, Nasdaq, passavam a mostrar a partir de então ganhos acima de 1% nesta quarta-feira, refletindo a melhora observada na curva de juros americana. No fechamento, que coincidiu nesta quarta-feira com o pico da sessão, o Ibovespa perfurou a máxima intradia da segunda-feira, 14, da semana passada (118.081,90), quando seguia em correção - a caminho naquele momento da 10ª perda em série negativa que totalizaria 13 sessões. Olhando o copo em outra perspectiva, desde então, nas quatro últimas sessões, o Ibovespa subiu em três com a desta quarta - em alta na casa de 1,5%, na terça, e de 1,7%, nesta quarta-feira. No fechamento, Dow Jones avançava nesta quarta 0,54%, S&P 500, 1,10%, e Nasdaq, 1,59%. "Da mesma forma que a Bolsa acompanhou os mercados de fora na queda, acompanha agora na retomada, com bom desempenho do Ibovespa nessas últimas duas sessões, em meio a essa 'enxugada' que se vê agora nos rendimentos dos Treasuries", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, destacando também a aprovação final, na noite de terça, do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados - "embora já estivesse amplamente colocada no preço" dos ativos, ressalva. "Um dia de força do Ibovespa que se soma ao bom humor internacional, desde cedo. Dados mais fracos de atividade econômica acabaram soando bem ao mercado, fortalecendo a ideia de fim de ciclo de aperto monetário, especialmente na Europa, na véspera do simpósio de Jackson Hole, que começa amanhã", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, referindo-se ao evento anual organizado pelo Fed de Kansas City, no Wyoming (EUA), com pronunciamentos de diversas autoridades monetárias, entre as quais o presidente do BC americano, Jerome Powell, que falará na sexta-feira. "Os dados tiveram impacto na curva de juros e, consequentemente, nos ativos financeiros", acrescenta o analista da Empiricus. "Os investidores acompanharam de perto, hoje, o resultado de índices de gerentes de compras (PMIs), com dados de Estados Unidos e Europa em destaque. A mensagem clara de que a economia global perde força - com PMIs registrando, em sua maioria, resultados abaixo do esperado, e alguns já sinalizando patamar de contração - alimentou o bom humor, especialmente na Bolsa", aponta Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, destacando o arrefecimento dos juros de longo prazo nos Estados Unidos, na medida em que o PMI composto (manufatura e serviços) mostra "cenário muito próximo de contração da maior economia do mundo". Apesar do sinal negativo para o petróleo, em queda de quase 1% para o Brent e o WTI nesta quarta-feira, as ações de Petrobras foram favorecidas pela recomendação de compra feita pelo Bank of America (BofA), com preço-alvo passando de R$ 33,00 para R$ 45,00 por ação, e de US$ 13,20 para US$ 18,00 por ADR, com potencial de valorização de 34% (ON), 47% (PN) e 33% (ADR) em relação ao fechamento anterior dos papéis. Nesta quarta, a ON fechou a R$ 35,41 e a PN, a R$ 32,24, esta na máxima do dia. A opinião positiva do BofA se baseia nas expectativas de que a empresa pagará dividendos extraordinários, considerando que a estatal não tem uma reserva legal e, portanto, não pode reter dinheiro. E o banco acredita também que o governo brasileiro apoia dividendos extraordinários, dada a situação fiscal. Além de Petrobras, a ação de maior peso individual no Ibovespa, Vale ON (+0,74%), embora na mínima do dia no fechamento (R$ 63,04), foi bem na sessão, em meio à recuperação dos preços do minério de ferro na China que, na terça, já haviam fechado no maior nível em três semanas. Nesta quarta-feira, o contrato futuro mais negociado do minério, em Dalian (China), fechou em alta de 3,68%. "Ainda não há notícias positivas vindo da China e o que se vê no minério é mais uma correção técnica", aponta Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, destacando que a melhora observada no Ibovespa, desde a manhã, decorreu também do fechamento da curva de juros brasileira. "Hoje os juros operaram num campo bom, principalmente os trechos mais longos, em retração. O fechamento da curva traz viés um pouco mais positivo para Bolsa", acrescenta o analista. O empresário Benjamin Steinbruch, acionista e presidente do grupo CSN, disse nesta quarta não acreditar na possibilidade de uma recessão na China, e espera que o governo chinês venha a adotar iniciativas para impulsionar a retomada do consumo. "No mercado de mineração, a questão é a China. Quando achamos que o ambiente na China vai melhorar, piora; e quando achamos que vai piorar, melhora. Ficamos à mercê desses movimentos", disse Steinbruch, durante participação na 24ª Conferência Anual Santander. Além do setor de commodities, o dia também foi positivo para outro segmento de peso, o financeiro, com destaque entre os grandes bancos para Bradesco (PN +1,38%). Na ponta do Ibovespa, São Martinho (+7,64%) e Eletrobras (ON +7,31%, PNB +5,91%), além das duas ações de Petrobras, bem como de Alpargatas (+5,68%) e Locaweb (+5,56%). No lado oposto, Pão de Açúcar (-19,39%), bem à frente de Via (-2,40%), de BRF (-2,31%) e Minerva (-2,14%) na sessão. Em relatório no qual examina a sequência de 13 perdas diárias no Ibovespa entre 1º e 17 de agosto - a maior da série iniciada em 1968 para a bolsa brasileira -, a Guide Investimentos aponta que "boa parte da explicação" para a correção em torno de 6% para o índice no intervalo decorre do ambiente externo, em razão de "dados desapontadores na China" e da "recente alta nas taxas de juros de mercado nos EUA". "Além dos fatores internacionais, outro ponto que vale destacar no caso do Brasil é que os resultados do 2T23 foram fracos. Empresas como Vale, Petrobras e Bradesco divulgaram resultados que desapontaram os investidores. Como estas empresas estão entre as maiores do Ibovespa, os resultados pressionaram o índice", acrescenta. A casa observa também, com recurso a gráficos, que nos "momentos de mercado de alta, como entre 2004 e 2007 ou entre 2016 e 2019, as correções costumam ser menores", enquanto em "momentos de mercado de baixa, como entre 2011 e 2015, as correções costumam ser maiores e mais frequentes". "Nossa visão é de que o mercado de ações ainda está em tendência de alta, impulsionada pelo início do ciclo de cortes de juros no Brasil", pontua a Guide, que avalia ser prudente evitar, no momento, "nomes mais cíclicos ou empresas muito endividadas e com resultados fracos" - e que a queda acumulada em agosto gera oportunidades de compra em muitas ações, sem a necessidade de escolha de "nomes muito arriscados". "Em agosto até agora, as maiores altas foram de empresas exportadoras como Minerva, Suzano, Embraer e BRF. Além da depreciação do real, algumas destas empresas ainda contaram com resultados fortes no 2T23 (divulgados em agosto), o que favoreceu a alta. Do lado negativo, empresas com dívida em dólar, como as companhias aéreas, e também empresas com histórico recente de resultados fracos, como Petz, Via e G. Soma, estão entre as maiores quedas", acrescenta o relatório, assinado pelo head de research da Guide Investimentos, Fernando Siqueira.
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