O Ibovespa teve um segundo dia de variação contida, de menos de 800 pontos entre a mínima (127.411,09) e a máxima (128.209,92) da sessão, em que fechou em leve baixa de 0,14%, aos 127.698,32 pontos, com giro a R$ 24,4 bilhões na véspera do vencimento de opções sobre o índice. Nas duas primeiras sessões da semana, o Ibovespa acumula perda de 0,10%, e cai 1,55% no mês - no ano, cede 4,83%. Com a perda desta terça-feira, o Ibovespa segue no menor nível desde 7 de agosto, então aos 127,5 mil pontos naquele fechamento.
Como ontem, o desempenho positivo de Petrobras (ON +0,97%, PN +1,88%), hoje na mesma direção do petróleo, contribuiu para dar algum equilíbrio ao Ibovespa, em sessão na qual tanto Vale (ON -2,27%) como os grandes bancos (Itaú PN -1,20%, Santander Unit -0,87%) seguiram em baixa. Na ponta perdedora do Ibovespa, Cogna (-5,41%), Metalúrgica Gerdau (-5,05%) e São Martinho (-4,23%). No lado oposto, Localiza (+6,79%), Hapvida (+4,42%) e Sabesp (+3,79%).
Como nas últimas semanas, o apetite por ativos de risco na B3 continua a ser bloqueado por uma conjuntura externa menos propícia a emergentes - como a recente eleição de Donald Trump para um segundo mandato na Casa Branca, e o fraco desempenho econômico da China, importante consumidora de commodities.
O fator decisivo, porém, continua a ser colocado na conta do governo: a demora em entregar um pacote de cortes de gastos que seja crível - ou seja, viável e robusto o suficiente para acalmar o mercado. No cenário de "sonho", algo na casa de R$ 50 bilhões ou mesmo de R$ 60 bilhões seria o suficiente, na visão de mercado, para mitigar a trajetória de crescimento da dívida bruta - hoje já perto de 80% do PIB, rumando para níveis de exclusividade das economias mais ricas.
Para Ricardo Lacerda, fundador do BR Partners, o governo precisaria de um corte de gastos acima de R$ 70 bilhões para produzir efeito positivo relevante no mercado, reporta o jornalista Altamiro Silva Junior, do Broadcast. "Não acredito que tenhamos um ajuste fiscal que surpreenda positivamente o mercado. Teremos ajustes paliativos até que algum governo seja eleito com essa bandeira", disse Lacerda em conversa com a imprensa, em evento pelos 15 anos do banco de investimento.
Há receio de que o corte venha bem abaixo do esperado ou do desejado, em meio a rumores de desidratação da proposta de redução de despesas, diz Inácio Alves, analista da Melver. "O mercado espera cortes da ordem de R$ 50 bilhões. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou qualquer pedido de mudança por parte dos ministérios sociais - Saúde, Previdência, Trabalho e Desenvolvimento Social - depois de se reunir com essas pastas", acrescenta.
Com a expectativa, agora, de que o pacote venha a ser anunciado apenas na semana que vem, depois das reunião do G20 no Rio de Janeiro, a tendência é de que os ativos domésticos mantenham o compasso de espera até que se conheça a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a dimensão do ajuste fiscal. Nesta terça-feira, o dólar à vista fechou o dia em leve alta de 0,03%, a R$ 5,7714.
"Enquanto espera, o mercado segue em movimento de correção baixista para as ações. Com as taxas de renda fixa cada vez mais atrativas, o investidor não vê motivos para se expor a riscos desnecessários", sintetiza Anderson Silva, sócio da GT Capital. "Mesmo com a demora do governo em apresentar o pacote, algumas empresas têm conseguido bons resultados ou demonstrado melhora, o que atrai a atenção de quem ainda busca preencher porcentual da carteira destinado à renda variável, com boas empresas que possam estar descontadas", ressalva.
"Estamos lidando com o prêmio de risco puro: enquanto o governo não demonstrar que é capaz de fazer os cortes necessários e de ter maior controle das contas públicas, o investidor exigirá mais prêmio", conclui.
"Cada dia que passa é um dia a mais sem definição. Mercado segue bastante tenso, na expectativa para o anúncio. Hoje, melhorou um pouco à tarde, com a notícia de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conversaria com Rodrigo Pacheco presidente do Senado e Arthur Lira presidente da Câmara no final do dia", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, referindo-se à convergência da Bolsa para o "zero a zero" na sessão, assim como o dólar.
Também na agenda macroeconômica, nesta terça-feira, a ata da mais recente reunião de política monetária do BC, de 6 de novembro, corroborou a impressão de que o Copom deve manter o ritmo de meio ponto porcentual de elevação da Selic no próximo encontro, em dezembro. Há, contudo, quem considere que o ritmo possa se acentuar, ante os fatores de incerteza que já prevalecem no horizonte de curto prazo.
A gestora ASA, por exemplo, passou a prever aceleração no ritmo de alta da taxa básica de juros, dos atuais 0,50 ponto porcentual para 0,75 ponto na reunião de dezembro do Copom, reporta o jornalista Daniel Tozzi Mendes, do Broadcast. O cenário-base inclui agora outra alta de 0,75 ponto em janeiro e uma elevação derradeira, de 0,50 ponto, em março. Com isso, a Selic atingiria 13,25% ao fim do atual ciclo de aperto monetário, nível que deve permanecer até o final de 2025, na estimativa do Asa.