O otimismo com os ativos domésticos diante da expectativa por cortes da taxa Selic no segundo semestre levou o Ibovespa a encerrar o dia em alta de 1,70%, aos 114,610,10 pontos, o maior nível de fechamento do ano. Os ganhos foram puxados por papéis ligados à economia local, sensíveis aos juros, e pela Petrobras, que avançou mais de 2% mesmo em um dia de queda dos preços do petróleo.
O índice saiu da abertura em 112.697,26 pontos e operou em alta durante praticamente todo o dia, exceto por uma queda pontual nos primeiros minutos de negociação, que o levou à mínima de 112.695,60 pontos (-0,06%). No melhor momento do pregão, avançou à máxima de 114.782,66 pontos, distante apenas 52,89 pontos do pico intradia do ano, visto em 26 de janeiro (114.835,35). O giro financeiro atingiu R$ 29,4 bilhões.
A queda dos juros futuros sustentou segmentos como consumo (3,24%) e imobiliário (3,17%), destaques da Bolsa brasileira na sessão, após o Índice Geral de Preços - DIsponibilidade Interna (IGP-DI) ter mostrado deflação de 2,33% em maio, a maior desde 1947 (-2,59%). As aberturas do índice reforçaram o quadro de alívio na inflação à véspera da divulgação do IPCA de maio, que será publicado nesta quarta-feira, 7, pelo IBGE.
Esse sinal desinflacionário se somou ao tom mais moderado adotado na véspera pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao comentar a inflação. Em evento, o banqueiro central havia dito que as expectativas do mercado para o IPCA de longo prazo estão altas, mas tendem a cair, o que reforçou as expectativas de corte da taxa Selic e sustentou um leve ganho para o Ibovespa nesta segunda-feira, 5.
"O gringo tem olhado para o Brasil e visto que o juro nominal tem cara de que vai começar a cair, e isso beneficia a Bolsa", afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig. "A curva de juros dos Estados Unidos e do Brasil tem fechado, está com cara que vai começar o ciclo de queda aqui, e isso beneficia o setor de consumo e a parte de construção civil, que começam a operar melhor."
Ao fim do pregão, a curva de juros apontava queda de 0,23 ponto porcentual da taxa Selic, hoje em 13,75%, em agosto, equivalente a uma probabilidade de 92% de cortes no mês. Com isso, ações ligadas ao desempenho da economia doméstica lideraram os ganhos, com destaque para Assaí ON (14,70%), Carrefour ON (10,91%), Azul PN (10,50%), Locaweb ON (10,15%) e Gol PN (8,69%), que tiveram as maiores altas do Ibovespa.
O otimismo com os ativos locais contaminou também os papéis da Petrobras, que tiveram ganhos entre 2,03% (ON) e 2,11% (PN), mesmo em um dia de baixa dos preços do petróleo entre 0,57% (WTI) e 0,55% (Brent). Esse bom humor se espalhou para 3R Petroleum ON (1,27%), mas foi insuficiente para evitar a queda de 3,03% na ação ordinária de PetroRio, a maior baixa do Ibovespa na sessão.
As ações ordinárias da Vale encerraram o dia com ganho de 0,33%, puxadas pela valorização de 1,23% do minério de ferro na Dalian Commodity Exchange, na China, em um dia misto para o setor de siderurgia e mineração. Já os grandes bancos anunciaram que devem aderir ao programa desenrola e fecharam com altas entre 2,09% (Bradesco ON) e 0,70% (Itaú Unibanco PN).
Os papéis da Eletrobras também tiveram alta firme, entre 4,80% (ON) e 4,07% (PNB), superando o desempenho do índice elétrico (1,99%). O noticiário político sobre a companhia repercutiu bem entre investidores após a Câmara dos Deputados ter se manifestado ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o pedido do governo que questiona a limitação do poder de voto da União na empresa.
Para Jolig, da Alphatree, o comportamento recente do Congresso, que tem defendido as reformas feitas por governos anteriores, também é um fator de suporte para os ativos domésticos. "O Congresso tem melhorado as coisas que vêm do Planalto, o que é bom, e tem defendido as reformas que já passaram. Com menos declarações do governo, isso acaba ajudando a animar o mercado", afirma.
O Bank of America (BofA) reiterou a posição "overweight" (equivalente a compra) em Brasil devido à percepção de que ainda há espaço para queda dos juros futuros e ao nível descontado do Ibovespa, ainda 10% abaixo do padrão histórico quando desconsiderados os papéis relacionados a commodities. Em relatório, o banco lembra que os juros de 10 anos do País caíram 80 pontos-base em maio e afirma que o movimento pode continuar.
Entre as maiores baixas do Ibovespa, além de PetroRio, figuram Cielo ON (-2,54%), São Martinho ON (-1,05%), Ultrapar ON (-0,61%) e B3 (-0,35%). Apenas nove dos 86 papéis que compõem o índice caíram na sessão.