O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fez longa defesa das políticas de proteção comercial e expansão do crédito público por países do "Sul Global" em reunião do grupo empresarial B20, nesta segunda-feira, 29, no Rio de Janeiro. O B20 é atrelado ao G20, cuja presidência é ocupada pelo Brasil até o fim de 2024.
Em provocação anunciada a empresários e representantes das chamadas economias desenvolvidas, Mercadante disse que os governos desses Países têm lançado mão de intensas políticas protecionistas, entre as quais crédito subsidiado para a indústria. Ele citou Estados Unidos, Europa e China.
Nesse contexto, disse, os países em desenvolvimento, reunidos na dimensão geopolítica do Sul Global, têm sido quase que obrigados a chegar no seu limite para fazer frente às investidas dos mais ricos e proteger seus setores produtivos.
"Depois da crise do covid-19, 71% das medidas de comércio exterior no mundo agridem o comércio multilateral. O Brasil tinha uma indústria maior que a de China e Coreia juntas nos anos 1980. Ela representava 30% do PIB, e hoje tem apenas 15%. Aderir a regras de livre-comércio, retirada de subsídio, estado mínimo e consenso de Washington, isso nos tirou industrialização", disse Mercadante ao defender a reversão desse receituário.
Ele destacou que no primeiro ano do governo Lula, o crédito concedido pelo BNDES cresceu 32% e deve seguir em alta nos próximos anos. O Banco vai responder por R$ 250 bilhões dos R$ 300 bilhões que servirão ao fomento da indústria nacional até 2026, conforme plano do governo federal anunciado na semana passada.
"Estamos compelidos a fazer política de proteção comercial. Somos empurrados à força, para chegarmos no nosso limite, se não vamos continuar assistindo à desindustrialização do Sul Global", continuou.
O presidente do BNDES deu como exemplo bem-sucedido do aumento de crédito o caso do agronegócio. "O agro tem o Plano Safra, subsidiando mais de R$ 360 bilhões por ano. Disso, 30% é distribuído pelo BNDES, conhecemos por dentro. É também isso que faz (o agronegócio) ser competitivo, além de sermos estruturalmente competitivos, pelo tamanho (do País)", disse, ao defender o mesmo empenho pela indústria nacional.
Questionado sobre eletromobilidade, Mercadante disse que o foco do banco nessa área serão ônibus urbanos, inclusive com auxílio para a estruturação de empresas de leasing de ônibus, em função do alto custo do bem para governos municipais.
Em seguida, ele também defendeu o uso do Fundo de Marinha Mercante, administrado pelo BNDES, para a indústria naval, e disse que a estimativa para 2024 é de créditos na ordem de R$ 2 bilhões para esse fim.