Nem mesmo o fechamento da curva dos Treasuries e a confirmação da queda de 0,25 ponto porcentual do juro básico norte-americano na reunião desta quarta-feira, 10, do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) foram suficientes para dissipar o mau humor nas mesas de renda fixa na segunda etapa do pregão desta quarta-feira.
Os investidores ativaram o modo cautela não só devido ao aumento da volatilidade do quadro eleitoral para 2026, que na visão do mercado segue indefinido, mas também por aguardarem manutenção do tom conservador do Banco Central (BC) no encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira, que não deve tirar a Selic dos atuais 15%. Já o IPCA de novembro veio em linha com as estimativas, mas trouxe sinais mistos: a difusão aumentou, a inflação de serviços segue resiliente e a melhora recente foi bastante apoiada no câmbio, que voltou a depreciar após o imbróglio político.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,726% no ajuste anterior para 13,715%. O DI para janeiro de 2029 avançou de 13,151% no ajuste a 13,19%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,475%, vindo de 13,428% no ajuste.
Nos Estados Unidos, a divergência entre os dirigentes do Fed sobre a definição do juro, de acordo com a Necton Investimentos, revelou um Comitê de Mercado Aberto (FOMC) "bastante dividido e com muitas dúvidas sobre os próximos passos da política monetária". Três dirigentes com direito a voto divergiram da decisão. O diretor Stephen Miran defendeu que a taxa deveria ter sido cortada em 50 pontos-base, enquanto o presidente da distrital de Kansas City, Jeffrey Schmid, e o presidente da distrital de Chicago, Austan Goolsbee, defenderam manutenção do juro no nível de 3,75% a 4%.
Como outro sinal de que o ciclo de afrouxamento está chegando ao fim, agentes citaram que as projeções da autarquia para o PIB foram revistas para cima: o dado de 2025 passou de 1,6% para 1,7%; o de 2026, de 1,8% para 2,3%; o de 2027, de 1,9% a 2% e, por fim, o do ano seguinte, de 1,8% a 1,9%.
"A atualização da previsão de crescimento do PIB para 2026 sugere que já podemos estar perto do fim do ciclo de flexibilização do Fed. A influência combinada do investimento impulsionado pela IA, do estímulo fiscal e da dinâmica da oferta de mão de obra torna cada vez mais difícil para o Fed justificar uma flexibilização significativa adicional, especialmente com o impacto total das tarifas sobre as pressões de preços ainda em desenvolvimento", afirmou Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management.
Para Seema, o BC americano deve fazer pausa para avaliar efeitos postergados do aperto anterior. "Embora seja provável que haja alguma flexibilização adicional em 2026, ela provavelmente será marginal e dependerá de uma maior confiança - e evidências - em relação à saúde da economia dos EUA", comentou.
Em coletiva de imprensa após a decisão, o comandante da instituição, Jerome Powell, afirmou que os riscos de inflação estão para cima e os de emprego, para baixo, e que os ajustes efetuados até agora no juro o colocam em nível neutro. Powell respondeu afirmativamente ao ser perguntado se o Fed está em pausa após o ajuste efetuado hoje na taxa. A política monetária, de acordo com ele, não está em trajetória pré-determinada, e haverá muitos dados disponíveis entre agora e a próxima reunião do FOMC, em janeiro.
Estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno destaca que a dinâmica de abertura dos DIs não mudou após o mercado conhecer a decisão do Fed, tampouco a precificação implícita para cortes na curva futura. As chances de redução de 25 pontos-base na reunião de janeiro estão em cerca de 64%, calcula Rostagno. Já para março, são ao redor de 70% de probabilidade de corte de 25 pontos-base, e 30% de apostas de flexibilização de 50 pontos-base. "Powell está cauteloso no sentido de não querer fazer nenhuma sinalização, reforçando a ideia de que eles vão tomar a decisão apenas no momento da reunião.
Já para o Copom, Rostagno avalia que o BC deve conservar o tom duro na decisão desta noite, mesmo prevendo que o ciclo de afrouxamento da Selic terá início em janeiro. O embaralhamento do cenário eleitoral após o anúncio de que o senador Flávio Bolsonaro (PL) será candidato é mais um elemento que pesa a favor de que o BC não altere sua estratégia agora, diz. "O câmbio se desvalorizou por causa do cenário doméstico na última semana e coloca em dúvida se o BC vai deixar a porta aberta para começar um ciclo de corte ou indicar que não está pronto."
Publicado nesta quarta-feira pelo IBGE, o IPCA subiu de 0,09% em outubro para 0,18% em novembro, em linha com a mediana do Projeções Broadcast. "No geral, essa leitura reforça nossa visão de que o processo de desinflação vai continuar", avalia o Santander em relatório. Já o Barclays destaca a resistência da inflação de serviços, que arrefeceu de 6,2% a 5,95% em 12 meses - acima da média do período pré-pandemia, de 4,2%. "Este grupo continua a exigir atenção, como frequentemente destacado nas comunicações do BC", alerta.