Tribuna do Norte Online

Dólar volta a subir e fecha a R$ 5,73, com exterior de olho em tarifas de Trump

Autor: Antonio Perez (via Agência Estado),
quarta-feira, 26/03/2025

Depois da queda de 0,75% na terça-feira, 25, quando chegou a esboçar fechamento abaixo da linha de R$ 5,70, o dólar voltou a subir nesta quarta-feira, 26, e terminou o dia na casa de R$ 5,73. Os negócios no mercado local foram guiados predominantemente pelo ambiente externo, marcado por fortalecimento da moeda americana, embora analistas tenham identificado uma volta do desconforto com o quadro político e fiscal doméstico.

Apesar da alta de commodities como minério de ferro e petróleo, o que sustentou o Ibovespa em terreno positivo, investidores voltaram a recompor posições defensivas em dólar. Houve vários rumores sobre os próximos passos da política comercial norte-americana em meio à contagem regressiva pelo anúncio das chamadas tarifas recíprocas pela administração Donald Trump, em 2 de abril. Com o mercado de câmbio já fechado, Trump confirmou que vai anunciar nesta quarta novas tarifas sobre importação de automóveis.

"Estamos num momento de morde-e-assopra com essa questão das tarifas, com ondas de otimismo e pessimismo nos mercados, o que deixa o dólar mais volátil", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, acrescentando que, dado o nível de juro real brasileiro, a taxa de câmbio deveria estar em nível mais baixo. "Mas temos esses temores de aumento de medidas populistas do governo, o que têm atrapalhado o real."

Além das incertezas em torno da reforma da renda, em especial as dúvidas sobre as compensações para a perda de receita provocada pela isenção de IR para quem recebe até R$ 5 mil mensais, houve desconforto nos últimos dias com a demanda pelo chamado consignado privado.

Avalia-se que há uma incompatibilidade entre a tentativa do governo de estimular o consumo e o aperto monetário conduzido pelo Banco Central, que busca moderar a atividade para ancorar as expectativas de inflação.

Com máxima a R$ 5,7479 no início da tarde, o dólar encerrou a sessão em alta de 0,41%, cotado a R$ 5,7328, passando a apresentar valorização de 0,26% na semana. Após ter avançado 1,37% em fevereiro, a moeda americana recua 3,10% em março, o que leva as perdas acumuladas no ano para 7,24%.

Lá fora, termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subia cerca de 0,40% no fim da tarde, ao redor dos 104,500 pontos, com máxima da sessão aos 104,630 pontos. As taxas dos Treasuries longos subiram.

Presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Minneapolis, Neel Kashkari pontuou nesta quarta que o ambiente de incertezas em meio à indefinição das tarifas americanas dificulta o manejo da política monetária. Já o presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, alertou que o BC americano pode ter que manter os juros mais altos por mais tempo a depender dos efeitos do "tarifaço", que ainda são incertos.

O economista André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional Remessa Online, vê a alta do dólar nesta quarta como um movimento natural de correção após a queda mais forte da terça, com investidores ainda tentando aquilatar os impactos das tarifas de Trump sobre a economia americana.

"Está chegando o grande anúncio das tarifas e o mercado passou a incorporar isso de forma mais intensa", afirma o consultor da Remessa Online. "A economia americana está, sim, desacelerando. O problema é avaliar a magnitude dessa desaceleração e o potencial das tarifas para alterar a dinâmica de preços nos EUA".

Por aqui, o BC informou que o fluxo cambial total em março (até o dia 24) está negativo em US$ 7,530 bilhões, em razão da saída líquida de US$ 7,676 bilhões. Pelo lado comercial, houve entrada líquida de US$ 146 milhões.

Operadores ressaltam que a apreciação do real no mês e no ano tem sido sustentada pelo desmonte de posições compradas em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contratos, swap e cupom cambial) por parte dos investidores estrangeiros. Na terça, os não residentes reduziram essa posição em US$ 1,31 bilhão, para cerca de US$ 40 bilhões, menor nível desde junho de 2023.