Após dois pregões seguidos de queda, o dólar subiu com força na sessão desta quarta-feira e voltou a superar o nível de R$ 4,95 no mercado doméstico de câmbio, acompanhando o sinal predominante de alta da moeda americana no exterior. A cautela prevaleceu entre os investidores diante de preocupações com a inflação americana, na véspera da divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) de janeiro.
Pela manhã, a segunda leitura do PIB do EUA no quarto trimestre mostrou crescimento um pouco abaixo do esperado, com núcleo do PCE no período acima das expectativas. Grosso modo, a avaliação de analistas é a de que a economia americana segue forte e a inflação, apesar de desacelerar, ainda permanece em níveis incômodos. Trata-se de uma combinação que lança dúvidas sobre o início e a magnitude do corte de juros pelo Federal Reserve neste ano.
Com sinal positivo desde a abertura, o dólar à vista acentuou o ritmo de alta ao longo da tarde, em meio à deterioração do mercado acionário local. O Ibovespa perdeu a linha dos 130 mil pontos com tombo das ações da Petrobras, após o presidente da petroleira, Jean Paul Prates, pregar cautela na distribuição de dividendos. Ontem, o Ibovespa havia subido 1,61% na esteira do IPCA-15 de fevereiro, com relatos de entrada de capital estrangeiro.
Após tocar máxima a R$ 4,9754, o dólar à vista fechou a R$ 4,97, em alta de 0,75%, o que reduziu as perdas na semana para 0,46%. No mês, a moeda sobe 0,66%. Operadores afirmam que os negócios já refletem em parte a rolagem de contratos futuros típica de fim de mês e a preparação para a disputa amanhã da formação da última taxa ptax de fevereiro.
"Parece que temos um movimento de ajuste após dois pregões de queda e também já uma distorção técnica no preço do dólar por conta da questão da ptax amanhã", afirma o CEO da FB Capital, Fernando Bergallo. "Além disso, os dados americanos divulgados hoje reforçam a leitura de que o Fed vai demorar a reduzir a taxa, o que joga o dólar para cima lá fora e pressiona o real".
À tarde, dirigentes do BC americano voltaram a afirmar que ainda é preciso mais confiança de que a inflação caminha para a meta de 2% antes que o Fed comece a reduzir os juros. Monitoramento do CME Group mostra chances de pouco mais de 60% de que o BC americano inicie um afrouxamento em junho. As apostas majoritárias são de que o ciclo total de redução da taxa básica - hoje entre 5,25% e 5,50% - neste ano seja de 75 pontos-base.
Bergallo, da FB Capital, observa que a modulação das expectativas para o corte inicial de juros pelo Fed, de acordo com indicadores correntes nos EUA, dita o nível da taxa de câmbio. Já as questões locais têm, por ora, ficado em segundo plano. Ele ressalta que, apesar das incertezas, o dólar apresenta uma "baixa amplitude", com oscilações muito contidas entre mínima e máxima ao longo dos pregões.
"As variações são bem curtas, mas não é porque existe a percepção de que o dólar atingiu um preço justo. Isso revela na verdade um grau elevado de incerteza sobre a tendência da taxa de câmbio", diz Bergallo. "Exportadores esperam uma alta do dólar para trazer recursos. E, de ouro lado, quem precisa remeter recursos para fora adia operações porque vê espaçado para queda. Isso deixa o mercado mais travado".
À tarde, o Tesouro informou que o Governo Central - que reúne as contas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central - registrou superávit de R$ 79,337 bilhões no mês passado, em linha com a mediana de Projeções Broadcast, de US$ 79,05 bilhões. Esses números afastam, por ora, a possibilidade de revisão da meta de déficit primário zero em 2024, prevista no novo arcabouço fiscal, já em março.