O dólar à vista atingiu o maior nível de fechamento em mais de um mês nesta segunda-feira, 4, dia marcado por fortalecimento global da moeda americana e avanço firme das taxas dos Treasuries. Segundo operadores, a agenda pesada desta semana, com destaque para a divulgação do relatório de emprego (payroll) nos EUA em novembro, nesta sexta-feira, 8, traz cautela aos mercados. Investidores embolsam lucros e reduzem a exposição ao risco, após terem no fim da semana passada aumentado as apostas em início de corte de juros pelo Federal Reserve em março de 2024, na esteira de fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar à vista ganhou ainda mais força ao longo da tarde, quando superou o nível de R$ 4,95 na máxima (R$ 4,9532), em sintonia com a piora do sentimento externo e as mínimas do Ibovespa. Operadores relataram movimento de realização de lucros com ações locais e ordens de limitação de perdas (stop loss) no mercado futuro, sobretudo por parte investidores de curto prazo que montaram "posições vendidas" em dólar no fim da semana passada. No fim do dia, a divisa subia 1,39%, cotada a R$ 4,9487 - maior valor desde 1º de novembro (4,9730).
No exterior, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - superou os 103,800 pontos na máxima, com valorização de mais de 0,50%. As moedas emergentes e de exportadores de commodities caíram em bloco, com o florim húngaro exibindo as maiores perdas, acima de 3,5%. Entre os pares do real, as maiores baixas foram dos pesos mexicano e o chileno. A taxa da T-note de 2 anos, mais ligada ao rumo da política monetária dos EUA, renovou máxima à tarde, na casa de 4,65%.
Para o diretor de investimentos da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, as moedas emergentes sofrem hoje com correção de parte dos excessos do fim da semana passada, quando investidores se apoiaram no discurso de Powell para ampliar o rali dos ativos de risco.
"Powell não disse nada mais forte que justificasse o movimento de sexta. Mas o mercado se animou e já colocou mais de 100 bases-points de corte dos juros no ano que vem", diz Jolig, para quem é prematuro ver um afrouxamento monetário nos Estados Unidos no primeiro semestre de 2024, apesar do quadro mais benigno da economia americana.
Na sexta-feira, Powell que o Fed não precisa "agir com pressa" e pode adotar uma postura cautelosa, levando em conta os efeitos defasados e cumulativos da alta de juros. Ele também afirmou que, embora ainda acima da meta de 2%, a inflação "está indo na direção correta".
Jolig pondera que, apesar da correção de hoje, o bom humor do mercado ao longo de novembro é compreensível. A leva mais recentes de indicadores mostra que a inflação está perdendo fôlego e caminhando para a meta com um mercado de trabalho ainda forte - o que configura o sonhado quadro de "pouso suave" da economia americana.
O diretor de investimentos da Alphatree Capital mantém uma visão construtiva para a moeda brasileira, embora possa haver uma pressão para alta da taxa de câmbio no curto prazo, com remessas típicas de fim de ano. "O real está hoje sofrendo ajuste junto com as outras divisas emergentes. Temos uma sazonalidade ruim para a moeda, o dólar pode até atingir R$ 5,00, mas não há uma mudança dos fundamentos, que continuam positivos", afirma. (Antonio Perez - antonio.perez@estadao.com)