Após esboçar uma arrancada no início da tarde, quando bateu máxima a R$ 4,9820, o dólar à vista perdeu força nas últimas horas de negócios e encerrou a sessão desta terça-feira, 30, cotado a R$ 4,9454, praticamente estável (-0,01%). A recuperação do real à tarde se deu em meio a uma perda de força da moda americana no exterior, em especial na comparação com os principais pares latino-americanos da moeda brasileira, como o peso mexicano.
Além da já esperada instabilidade e troca de sinais na véspera da chamada "superquarta", com anúncio de decisão de política monetária aqui e, em especial, nos Estados Unidos, operadores afirmam que os negócios já estão sob a influência técnica da rolagem de contratos futuros típica de fim de mês e de ajustes de posições para a disputa, amanhã, da formação da última taxa ptax de janeiro.
As máximas do dólar por aqui mais cedo também coincidiram com momento de maior pressão sobre divisas emergentes em meio a dados acima do esperado de abertura de postos de trabalho nos EUA em dezembro, segundo relatório Jolts. Além disso, o índice de confiança do consumidor americano em dezembro também subiu mais que as expectativas.
É consensual que o Fed vai anunciar amanhã manutenção da taxa básica no intervalo entre 5,25% e 5,50%. As atenções se voltam ao comunicado e, em especial, à entrevista coletiva do chairman Jerome Powell, que pode dar sinais sobre eventual início de corte de juros. Nas últimas semanas, apesar de indicadores de inflação comportados, dados mais fortes de atividade e do mercado de trabalho fizeram com que a aposta majoritária dos investidores para a primeira redução dos Fed funds migrasse de março para maio.
Segundo o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, após o dólar ter subido ontem 0,71% sobretudo em razão da questão fiscal na esteira do déficit primário de 2,1% do PIB em 2023, hoje o comportamento da moeda americana esteve muito ligado ao ambiente externo. Ele observa que há receio em relação à atividade na China diante da sensação de que o governo chinês não vai aumentar estímulos econômicos para dar suporte à atividade e ao mercado acionário - o que se reflete na baixa do minério de ferro e deixa as moedas latino-americanas mais instáveis.
Outro ponto é a correção do otimismo exagerado dos investidores em torno não apenas do início mas também da magnitude dos cortes de juros nos Estados Unidos ao longo deste ano. Ele destaca que o resultado do relatório Jolts revela que há ainda um desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado de trabalho americano, cujo processo de normalização se dá em velocidade mais lenta do que a prevista.
"O câmbio está sofrendo impacto principalmente dessas duas variáveis: a dúvida com o crescimento da China e uma correção do super otimismo com os juros americanos. O real não está performando tão mal assim porque começamos a ter notícia de que vai ter fluxo, com emissão de empresas lá fora aproveitando a janela aberta pelo Tesouro", afirma Borsoi, em referência à captação de US$ 4,5 bilhões pelo Tesouro Nacional em emissão de títulos em dólares no último dia 22.