O relator da reforma tributária no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), afirmou nesta quinta-feira, 19, que os setores de mineração e os combustíveis fósseis poderão ser alvo do novo Imposto Seletivo, também chamado de "imposto do pecado", que sobretaxa produtos que fazem mal à saúde e ao meio ambiente. Como antecipou o
Estadãomais cedo, Braga decidiu retirar dessa lista o setor de energia elétrica. Em entrevista nesta quinta, ele confirmou a decisão. "Energia (elétrica) não faz sentido ter Imposto Seletivo. Para telecomunicações, estamos avaliando. Combustível eu não tenho certeza, porque ele tem impacto no meio ambiente. Já energia, 92% da nossa matriz energética é limpa, é injusto com o consumidor", afirmou Braga. "Na minha opinião, recursos naturais não renováveis devem ser taxados pelo Imposto Seletivo". Braga admitiu que está estudando uma forma de restringir a aplicação do Imposto Seletivo pelo governo federal, como desejam os senadores. Este é um pleito do setor privado, que vê o risco de esse imposto passar a ter fins arrecadatórios e não apenas regulatórios, como funciona hoje com bebidas e cigarros. Como antecipou o
Estadão, a CAE propôs que a aplicação do imposto e a fixação de alíquotas se dê por meio de lei complementar, o que requer a aprovação de um quórum mais elevado de parlamentares tanto na Câmara quanto no Senado. Braga afirmou que o regramento do novo imposto deve ser feito por lei complementar, mas a fixação de alíquotas, por lei ordinária. "Toda preocupação que existe quanto à segurança jurídica (da taxação) ficaria em lei complementar, o que resolveria toda essa desconfiança (do setor produtivo). E deixaríamos em lei ordinária as alíquotas, pela dinâmica econômica, mas colocando que só têm validade no momento de conversão da lei", afirmou Braga. O desenho afastaria a hipótese de o governo lançar mão de um aumento no Imposto Seletivo a um setor por meio de uma Medida Provisória, com efeito imediato. Só após a aprovação da MP pelo Congresso é que a nova alíquota passaria a valer; obrigando, assim, o governo a requisitar a aprovação do Parlamento para sobretaxar determinada atividade. O relator disse ser contra reduzir o prazo de transição total da reforma de 50 anos para 30 anos, como propôs a CAE. Segundo Braga, o intervalo alongado da mudança na tributação da origem (onde os produtos são fabricados) para ao destino de consumo das mercadorias e serviços serve para reduzir o impacto sobre os Estados que são grandes produtores. Amazonas, o Estado natal de Braga, é o que mais perde com a mudança no local de arrecadação. "Eu não concordo (com a redução proposta); existem Estados que não suportariam essa redução de transição", afirmou.
Fundo regionalO relator participou de reunião na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, onde recebeu um documento com propostas para a reforma tributária. Em sua fala na comissão, Braga afirmou que o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR), a ser criado para compensar o fim dos incentivos tributários via ICMS para atração de investimentos, deverá ser "robusto". O governo federal propôs que esse fundo receba aportes anuais de R$ 40 bilhões a partir de 2033. Antes disso, ele seria capitalizado aos poucos, começando com R$ 8 bilhões em 2029. Os Estados, no entanto, defendem que o valor alocado anualmente pela União no fundo seja de R$ 75 bilhões a R$ 80 bilhões. Braga sugeriu que deverá acolher o pedido dos Estados de elevar o valor do fundo, mas evitou cravar qual será o valor que incluirá em seu relatório. "A partir de 2033, os incentivos serão orçamentários a partir do Fundo de Desenvolvimento Regional. Portanto, para as futuras gerações, será o FNDR o responsável pela redução das desigualdades econômicas e regionais. Por isso, esse fundo precisa ser robusto", disse Braga. "Mas precisa ter fonte e ter uma posição negociada com o governo (federal)." O relator afirmou também que vai prever em seu relatório os critérios de divisão dos recursos do fundo entre os Estados, um dos motivos da queixa dos governadores sobre a tramitação da reforma na Câmara. Ele defendeu que a repartição ocorra por meio de um critério híbrido, que misture renda per capita e outro modelo, ainda em discussão. "As conversas estão acontecendo, o clima está melhorando, e eu estou mais otimista de que é possível (aprovar a reforma tributária)", disse o relator.
CronogramaApesar da data marcada para a próxima terça-feira, 24, para a entrega de seu relatório, Braga admitiu que a data poderá ser novamente postergada para o dia 1º de novembro, uma vez que a reforma já tem 537 propostas de alteração no Senado e, só na última noite, entraram 145 novas. O relator havia dito que uma primeira versão do texto seria apresentada ainda nesta quinta para o Ministério da Fazenda e líderes do Senado, mas não concluiu o trabalho. "Tem uma sabatina marcada na próxima terça-feira e uma sessão do Congresso já está agendada, então (a entrega do relatório) ficaria para o dia 25 ou para o dia 1º. Não faz diferença, porque vai ser votado no dia 7 mesmo", afirmou Braga.