Na retomada dos negócios após o feriado de ontem, o Ibovespa não conseguiu evitar o sinal negativo que se impôs em Nova York nessas últimas duas sessões da semana. Assim, a referência da B3 buscou mínimas no meio da tarde, em linha com a piora em NY, onde os índices de ações haviam subido em parte da manhã, mas perderam fôlego não muito tempo depois da abertura com a leitura sobre o índice de confiança do consumidor nos Estados Unidos em setembro, que se coadunou com o resultado acima do esperado para a inflação (CPI), divulgada na manhã anterior.
Hoje, após ganhos nas quatro sessões anteriores, o Ibovespa oscilou entre mínima de 115.658,27 (-1,19%) e máxima de 117.070,35 (+0,02%), encerrando o dia em baixa de 1,11%, a 115.754,08 pontos, com giro financeiro a R$ 21,2 bilhões. Na semana, o índice da B3 subiu 1,39%, vindo de perda de 2,06% acumulada no intervalo anterior. No mês, com a retração no pregão desta sexta-feira, volta a mostrar sinal negativo (-0,70%), limitando o avanço do ano a 5,49%.
Em Nova York, Dow Jones obteve leve ganho de 0,12% no fechamento desta sexta-feira, com perda de 0,50% para o S&P 500 e de 1,23% para o Nasdaq na sessão - na semana, o Dow Jones avançou 0,79% e o S&P 500, 0,45%, enquanto o Nasdaq cedeu 0,18%. Nesta sexta-feira, a perda de gás em Nova York acompanhou sinais de deterioração da confiança do consumidor americano, na métrica da Universidade de Michigan, em leitura que trouxe também aumento das expectativas dos consumidores para a inflação nos Estados Unidos.
"Os ativos brasileiros fizeram um catch up realinhamento com o que se viu desde ontem lá fora, com o clima mais tenso no exterior. Voltamos a ter pressão na curva de juros americana, que havia aliviado um pouco entre terça e quarta-feira, e agora volta a pressionar não apenas ativos de risco, como ações, mas a apreciar o dólar com a busca por proteção", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, referindo-se à "iminência" da entrada de tropas de Israel na Faixa de Gaza. Nesta sexta-feira, o dólar à vista fechou em alta de 0,77%, a R$ 5,0885.
De ontem para hoje, Israel deu ultimato de 24 horas para que civis sejam retirados da Cidade de Gaza e da faixa norte do território sob controle do Hamas, o que foi interpretado como sinal de que as forças de defesa do país estão prestes a ocupar essa área palestina.
Refletindo também a possibilidade de que terceiras partes se envolvam no conflito - o que já acontece com o grupo Hezbollah, que atua a partir do sul do Líbano, e com alguns ataques palestinos a partir da fronteira da Síria com Israel -, o petróleo voltou a operar muito pressionado nesta sexta-feira, após algum alívio observado antes do feriado no Brasil. A atenção está concentrada no Irã, grande produtor da commodity, e que a princípio buscou distância do ataque feito no último sábado, 7, pelo Hamas - um aliado histórico da teocracia persa.
Assim, com o petróleo Brent e WTI em alta acima de 5% no fechamento desta sexta-feira, o desempenho de Petrobras (ON +3,15%, PN +3,30%) contribuiu para evitar queda ainda maior para o Ibovespa ao longo do dia. Na ponta ganhadora do índice, além da estatal, destaque para as petrolíferas Prio (+5,04%) e 3R Petroleum (+3,19%), além de Suzano (+3,37%). No canto oposto, Grupo Casas Bahia (-8,20%), Soma (-7,26%) e Natura (-7,01%). Na semana, Petrobras ON e PN subiram, respectivamente, 8,11% e 8,27%.
"Mais um dia de queda para as bolsas, nos Estados Unidos e na Europa, e aqui no Brasil não foi diferente, apesar de Petrobras ter aproveitado a alta do petróleo", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos. "Ontem, os juros americanos de 10 anos tinham disparado, após os dados sobre a inflação dos Estados Unidos - um movimento que tira dinheiro de ativos no mundo inteiro, principalmente dos emergentes", acrescenta o economista.
Afora Petrobras, as demais ações de peso e liquidez na B3 - entre as quais Vale (ON -1,14%), mesmo com a alta de 1,45% no minério de ferro em Dalian (China) - cederam terreno na sessão. Na semana, a ação da mineradora caiu 0,40%. Entre os grandes bancos, o dia também foi de correção, com destaque para a queda de 1,79% em Santander (Unit) - que avançou, contudo, 1,07% na semana, em intervalo também levemente positivo para Bradesco (ON +0,24%, PN +0,14% na semana).
Do exterior, de ontem para hoje, destaque ainda para a divulgação de nova rodada de indicadores sobre a economia chinesa, com atenção especial para os dados de comércio exterior. Tanto as exportações como as importações chinesas recuaram 6,2% no mês passado, ante o mesmo intervalo de 2022, com as vendas para o exterior mostrando retração pelo quinto mês consecutivo - ainda assim, a leitura veio melhor do que a estimativa de consenso, de queda de 8,3% para setembro, conforme a FactSet.
Na China, também foram divulgadas leituras sobre inflação e concessão de crédito pelos bancos. O índice de preços ao consumidor (CPI) permaneceu estável em setembro, na comparação anual, enquanto a inflação ao produtor (PPI) recuou 2,5% na mesma base de comparação. Por fim, a concessão de novos empréstimos por bancos chineses avançou com intensidade em setembro, bem acima da leitura de agosto, atingindo agora a marca de 2,31 trilhões de yuans, o correspondente a US$ 316,31 bilhões - no entanto, ficou um pouco abaixo da expectativa de consenso para o mês, de 2,63 trilhões de yuans, segundo analistas ouvidos por The Wall Street Journal.
Apesar da aversão a risco que deu o tom aos negócios na semana em todo o mundo, a maioria dos participantes do Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira acredita que o Ibovespa terá desempenho positivo no agregado das próximas cinco sessões. Os que esperam alta para o índice são 60,00%, leve abrandamento em relação aos 62,50% que estimavam tal movimento na semana passada. Os que acreditam em estabilidade passaram de 25,00% para 40%. Não houve estimativas de queda, ao passo que na sexta-feira passada esse contingente era de 12,50%.