Campos Neto evita polêmica, mas cita piora de preços de ativos com pronunciamentos de Lula

Autor: Eduardo Laguna, Francisco Carlos de Assis e Cícero Cotrim (via Agência Estado),
quinta-feira, 27/06/2024

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, evitou entrar nesta quinta-feira, 27, em polêmica sobre as declarações do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em relação tanto ao seu trabalho à frente da autoridade monetária quanto à política fiscal. Ao responder, porém, se os ataques de Lula dificultam o trabalho do BC, Campos Neto observou que, conforme mostra o comportamento do mercado em tempo real no passado recente, houve piora de preços de ativos e de variáveis econômicas em momentos de pronunciamento do presidente.

Dessa forma, ele ponderou que o aumento do prêmio de risco, com volatilidade, afeta o canal das expectativas e, consequentemente, a potência da política monetária, tornando, sim, mais difícil o trabalho do BC ao longo do tempo.

Campos Neto, da mesma forma, procurou não comentar as falas em que Lula descarta a ideia de desvincular os reajustes de benefícios previdenciários do salário mínimo. Segundo o presidente do BC, não faz sentido comentar medidas especificas relacionadas às contas públicas, acrescentando que o que importa são os desdobramentos da política fiscal na função de reação do Banco Central.

Apesar da avaliação de que ruídos fiscais contribuem para elevar o prêmio de risco, Campos Neto explicou por que as incertezas fiscais não voltam ao balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom).

Ao contrário das expectativas, os números das contas públicas de curto prazo têm sido positivos, lembrou, de modo que não faz sentido dar peso muito grande ao fiscal no balanço. "Entendemos que estamos passando por ruídos de curto prazo e precisamos falar mais de variáveis estruturais."

Campos Neto afirmou também que a estratégia do BC de não antecipar os próximos passos do Copom, com o fim do forward guidance, não significa que a autoridade monetária não esteja vigilante. Nesse ponto, reafirmou que a desancoragem das expectativas de inflação preocupa muito o BC.