Após forte correção, Ibovespa tem leve alta de 0,34%, aos 121,1 mil pontos

Autor: Luís Eduardo Leal (via Agência Estado),
quinta-feira, 19/12/2024

Em dia de nova atuação do Banco Central no mercado de câmbio para reverter, ao menos em parte, a depreciação do real - com o dólar a R$ 6,30 na nova máxima histórica, durante a sessão, e ainda a R$ 6,12 (-2,27%) no fechamento -, o Ibovespa conseguiu recuperar a linha dos 121 mil pontos nesta quinta-feira. Em alta moderada a 0,34%, aos 121.187,91 pontos no encerramento, o índice flutuou apenas mil pontos entre a mínima (120.768,22) e a máxima (121.769,57) da sessão, com giro a R$ 27,7 bilhões, após o reforço visto ontem no vencimento de opções sobre o Ibovespa. Na semana, cai 2,75% e, no mês, 3,56% - no ano, recua 9,69%.

Após ter fechado ontem no menor nível desde novembro de 2022, "o Ibovespa teve um dia de alívio em uma semana difícil para os ativos de risco brasileiros", diz Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital.

"Era esperado que um aumento no diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos pudesse atrair mais recursos - ou seja, dólar - para o Brasil, tanto para renda fixa quanto para variável, levando a uma possível queda frente ao real e nas curvas de juros", acrescenta, em referência a uma expectativa que tem se frustrado, em parte, pelas incertezas em torno da situação fiscal doméstica. E o cenário se torna ainda mais complexo na medida em que o Federal Reserve sinalizou, ontem, não apenas possível pausa nos cortes de juros, mas até uma retomada das altas nas taxas de referência, se necessário, observa Silva.

"O Fed parece ter voltado a priorizar a inflação em relação às taxas de desemprego, dando sinais de que haverá uma pausa na queda das taxas em janeiro, que pode se estender por outros meses de 2025, se a pressão inflacionária persistir e a economia continuar robusta", observa a Janus Henderson Investors em nota, na qual destaca, também, a interpretação do mercado de que o Fed foi hawkish, "provada pela tendência de uma curva de redução das taxas mais lenta".

Na agenda doméstica desta quinta-feira, a atenção do mercado esteve concentrada na apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) e na coletiva de despedida de Roberto Campos Neto, que encerra amanhã a passagem pela autarquia: Gabriel Galípolo será o interino nas semanas finais do ano, e assumirá efetivamente a presidência do BC em janeiro conforme o mandato. "Na coletiva de imprensa para a apresentação do material, o destaque foi a fala de Galípolo, que afirmou que a barra para abandonar o guidance sobre juros é elevada", aponta em nota Flávio Serrano, economista-chefe do Bmg.

Em outras palavras, acrescenta Serrano, teria que ocorrer uma "deterioração substancial do cenário macroeconômico para que o Banco Central não dê outra alta de 100 bps pontos-base, ou 1 ponto porcentual no encontro de janeiro". "Com base nas informações disponíveis atualmente, acreditamos que o Copom elevará a taxa básica de juros até 14,75% ao ano, encerrando o ciclo de aperto na reunião de maio de 2025", prevê o economista.

O mercado segue atento também à tramitação do pacote de cortes de gastos pelo Congresso. Nesta tarde, a Câmara dos Deputados aprovou, em dois turnos, o texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do pacote fiscal, que traz alterações no abono salarial e no Fundeb. O texto também disciplina os chamados "supersalários", prorroga a Desvinculação de Receitas da União (DRU) e autoriza ajuste orçamentário em subsídios e subvenções.

As desidratações do pacote fiscal pela Câmara vieram conforme o esperado, e devem tornar o efeito sobre a política fiscal nos próximos anos ainda mais marginal e insuficiente, na avaliação do economista-chefe da ARX Investimentos, Gabriel Leal de Barros, reporta a jornalista Gabriela Jucá, do Broadcast. "A retirada do FCDF, do upgrade dos critérios de acesso do BPC, do bloqueio de grande parte das emendas, da parcela para educação integral do Fundeb, bem como dos supersalários, reduz ainda mais a potência do pacote fiscal, que já era insuficiente", diz.

"O dólar atingiu a marca histórica de R$ 6,30, mesmo com as tentativas do Banco Central de conter a alta por meio de leilões de venda da moeda americana. Essa volatilidade cambial reflete a crescente preocupação dos investidores com a situação fiscal, intensificada após a aprovação parcial do pacote fiscal na Câmara dos Deputados", aponta Eduardo Nogueira, sócio da One Investimentos.

Na B3, a baixa nas principais ações de commodities (Vale ON -1,90%; Petrobras ON

-0,92%, PN -0,40%) e do setor metálico (Gerdau PN -1,27%, CSN ON -2,53%) foi equilibrada pelo desempenho do setor financeiro, com Santander (Unit +0,76%) e BB (ON +0,63%) à frente de Itaú (PN +0,55%) e Bradesco (ON +0,57%, PN +0,09%) no fechamento. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Automob (+34,29%) voltou a liderar a corrente, após ter cedido 30% ontem, vindo de forte alta nas duas sessões precedentes, na estreia. Destaque também, hoje, para Localiza (+8,75%), Carrefour (+8,20%) e Hapvida (+8,02%). No lado oposto, CSN Mineração (-1,87%) e JBS (-1,49%), além de CSN e Vale.