Com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, surge um ponto de interrogação sobre a transição da indústria automotiva norte-americana em direção aos carros elétricos. Nesta quarta-feira, 6, durante a apresentação dos resultados do setor em outubro, a direção da Anfavea, associação das montadoras instaladas no Brasil, avaliou que podem haver mudanças nas rotas de descarbonização.
Presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite lembrou que Trump já manifestou posicionamento favorável a uma transição energética mais suave no tempo. O investimento maciço na substituição dos combustíveis fósseis, inclusive com incentivos à aquisição de carros elétricos e produção de baterias, foi uma das marcas do governo do presidente atual, Joe Biden.
Leite observou, assim, que houve uma mudança de posicionamento na indústria automotiva americana nos últimos quatro anos. A partir de janeiro, com Trump voltando à Casa Branca, a expectativa, comentou, é sobre qual será o apetite em relação a questões de meio ambiente, descarbonização e novas rotas tecnológicas. A impressão é de que "tudo pode acontecer".
"Vamos acompanhar com um pouco mais de atenção. Tudo que vinha sendo discutido como política do governo americano pode passar por revisão pelo fato de Trump ter posicionamento um pouco diferente em relação a essas questões", disse o presidente da Anfavea.
Ele ponderou que é difícil antecipar o caminho que será tomado pelos Estados Unidos porque, ao mesmo tempo em que já defendeu uma transição energética mais gradual, Trump está próximo a empresas "com viés de eletrificação", referindo-se, embora sem citar o nome, à Tesla, do empresário Elon Musk, aliado do presidente eleito dos Estados Unidos.
"Sem dúvida estamos acompanhando, e isso pode impactar, sim, as empresas e o mercado como um todo", afirmou Leite em relação aos possíveis desdobramentos na indústria de automóveis a partir da troca de governo nos Estados Unidos.
Em relação ao comércio exterior, o presidente da Anfavea não espera impacto relevante ao Brasil, apesar da perspectiva de maior protecionismo comercial no segundo mandato de Trump. A eleição de Trump traz a possibilidade, apontada por analistas, de as barreiras nos Estados Unidos desviarem as exportações chinesas a outros mercados, como o Brasil, onde um a cada quatro carros importados já vem da China.
O presidente da Anfavea ponderou, no entanto, que os carros elétricos chineses já enfrentam, com Biden, uma tarifa elevada, de 100%, para entrar nos Estados Unidos.