A manutenção da taxa Selic em 10,5% até o fim de 2025 para fazer a inflação convergir à meta, como no cenário alternativo do Banco Central, parece improvável, afirma a A.C. Pastore & Associados. Em primeiro lugar, porque o horizonte relevante da política monetária mudará gradualmente para 2026. Em segundo, porque não se pode descartar a possibilidade de a autoridade monetária tornar-se mais leniente com a inflação a partir do ano que vem, com a troca do seu presidente.
"A possibilidade de um BC mais leniente com a inflação está presente e deve ser levada em conta, sugerindo uma dificuldade ainda maior de comprometimento com uma trajetória de juros que leve à convergência da inflação para a meta mesmo em 2025", dizem os economistas da consultoria Maria Cristina Pinotti, Alexandre Schwartsman, Diego Brandão, Matheus Ajzenberg e Rafael Coquejo, em relatório.
Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada hoje, o BC trouxe um cenário alternativo que indica IPCA de 3,1% no fim do ano que vem, caso a Selic fique parada em 10,5%. No cenário de referência, com a trajetória de juros embutida no Focus - Selic em 10,5% no fim de 2024 e em 9,5% no fim de 2025 -, a autoridade monetária espera uma inflação 0,3 ponto porcentual maior, de 3,4%.
Mas, mesmo do ponto de vista técnico, os analistas da A.C. Pastore & Associados destacam que a manutenção dos juros em 10,5% seria improvável. Eles destacam que o BC nunca manteve os juros parados por tanto tempo. Além disso, ressaltam o problema de "inconsistência temporal" na estratégia, já que o horizonte relevante da política monetária mudaria gradualmente para 2026. Os modelos indicariam inflação abaixo da meta no ano, o que exigiria um corte de juros.
A A.C. Pastore espera manutenção da Selic em 10,5% até o fim deste ano e corte dos juros a 9,5% ao longo de 2025. "Por outro lado, nossa projeção de inflação para o ano que vem se encontra na vizinhança de 3,8%, refletindo o menor compromisso do BC no que respeita à meta de inflação a partir de dezembro de 2024", afirmam.