Cartel impede redução no preço do combustível, diz Moreira Franco

Autor: Da Redação,
quarta-feira, 07/02/2018

NICOLA PAMPLONA E ANAÏS FERNANDES

RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com a imagem desgastada pelo persistente aumento no preço da gasolina, o governo acusa supostos cartéis de impedir o repasse às bombas de cortes promovidos pela Petrobras e anunciou pedido de investigação ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

No mesmo dia, a Petrobras informou que vai mudar sua política de divulgação dos preços, permitindo que o consumidor conheça os valores cobrados pela gasolina e pelo diesel em suas refinarias.

"Queremos que a queda de preços da Petrobras chegue aos consumidores. Não podemos assistir de mãos atadas à atuação cartelizada das corporações do setor em prejuízo da população", disse o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Moreira Franco. Na terça-feira (6), o presidente Michel Temer já havia dito que o governo estuda uma fórmula jurídica para obrigar o repasse de reduções às bombas.

O Planalto avalia que os aumentos têm contribuído para a baixa popularidade do presidente. Na última pesquisa Datafolha sobre o tema, em dezembro, 82% dos entrevistados avaliaram que o preço da gasolina havia subido muito nos últimos meses.

Desde o início de julho, quando a Petrobras iniciou nova política de preços com reajustes diários, a gasolina subiu 20% nas bombas e o diesel, 14,8%, de acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Os preços da estatal representam cerca de 30% do valor final de venda -o restante é composto por impostos e margens das distribuidoras e postos revendedores.

Questionada sobre qual dos elos da cadeia seriam alvos da investigação, a Secretaria Geral da Presidência disse apenas que o ministro falou em "corporações", tanto no segmento da distribuição quanto no da revenda.

Os dados da ANP mostram que, entre julho e a última semana, as distribuidoras aumentaram seus preços em percentual superior ao das bombas: 23,1% na gasolina e 20,5% no diesel. Já a margem de lucro dos postos ficou praticamente inalterada na gasolina e caiu 18% no diesel.

Em entrevista nesta quarta, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse que a mudança no modelo de divulgação dos preços tem como objetivo "dar contribuição com a discussão do preço dos combustíveis".

Os reajustes são publicados em seu site com um dia de antecedência. Nesta quarta, por exemplo, a estatal anunciou redução dos preços da gasolina e do diesel em 1,5% e 0,7%, respectivamente, para esta quinta (8).

A partir da segunda (19), a empresa passará a divulgar apenas os preços médios de cada combustível, sem os percentuais. "É mais transparente", defendeu o presidente da estatal.

OUTRO LADO

A ofensiva do governo gerou críticas entre revendedores de combustíveis, que culpam a nova política da Petrobras e o aumento de impostos pela alta nos preços.

"Fazer a consulta [ao Cade] não tem problema nenhum. O que não pode é querer falar que toda a culpa está no posto", afirmou José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sincopetro (sindicato dos postos de combustível de São Paulo. Ele classificou como "irresponsável" a mudança na divulgação dos preços. "A pessoa vai achar que vai encontrar o mesmo valor no posto, sem considerar os impostos e custos." Procurada, a Plural, que reúne as distribuidoras, não se manifestou.