Para Eurasia, mundo tem risco de crise político-econômica como a de 2008

Autor: Da Redação,
terça-feira, 02/01/2018

FLAVIA LIMA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A consultoria americana Eurasia desenha um quadro político-econômico bastante sombrio para 2018.

"Se tivesse que escolher um ano em que possa ocorrer uma grande crise inesperada -o equivalente geopolítico da crise financeira de 2008- este ano seria 2018", disse o presidente da Eurasia, Ian Bremmer, em conversa com jornalistas.

Em uma análise sobre os principais riscos que podem afetar a economia mundial neste ano, a consultoria cita o aumento do protecionismo comercial. Graças à pressão populista, afirma Bremmer, os governos apelam ao protecionismo como se estivessem fazendo algo em favor dos muitos empregos perdidos. "Como resultado, as paredes estão subindo", diz.

O que a consultoria chama de "protecionismo 2.0" criaria barreiras não apenas na indústria e no agronegócio, mas na economia digital e nas indústrias intensivas em inovação. Em vez de tarifas de importação ou imposição de cotas, as ferramentas atuais "para dentro das fronteiras" incluem subsídios e requisitos de conteúdo local.

As novas barreiras são menos visíveis e não driblam necessariamente os compromissos com a OMC (Organização Mundial do Comércio), mas se escoram na incapacidade global de fortalecer regras de comércio já existentes, aponta.

Uma das fontes a alimentar esse quadro é o crescente avanço chinês sobre ativos estratégicos estrangeiros. Esse avanço, diz a Eurasia, alimenta a preocupação de que a transferência de propriedade intelectual está ocorrendo num ritmo que exige uma resposta política, mas nenhum líder -nem os EUA- se mostrou capaz de garantir as novas regras desse jogo.

CONTROLE SOBRE INVESTIMENTO EXTERNO

Nesse ambiente, diz a consultoria, a origem dos investimentos externos é cada vez mais monitorada por cada país, na tentativa de evitar o controle estrangeiro sobre campeões domésticos e sobre tecnologias consideradas sensíveis.

"A suspeita é maior entre a Europa e Estados Unidos e entre China e Rússia".

Segundo a Eurasia, os governos não estão apenas tentando proteger vantagens comparativas em setores tradicionais, como agricultura, produtos químicos e máquinas, em razão da preocupação com empregos perdidos ou interesses econômicos domésticos. Eles também estão intervindo nas indústrias intensivas em inovação para preservar propriedade intelectual e tecnologias críticas à competitividade nacional.

A expectativa da consultoria é que o chamado "protecionismo 2.0" acabará infligindo maiores danos geopolíticos do que esperam aqueles que o praticam, a despeito de os principais mercados ao redor do globo registrarem alta e o desempenho econômico se manter em níveis relativamente bons.

Esse novo protecionismo vai coexistir com um impulso contínuo para negociar acordos regionais de livre comércio, o que tornará o ambiente regulatório global mais complexo e contraditório, afirma.

Como resultado, empresas e investidores vão ter que administrar cadeias de oferta mais complexas, o custo de fazer negócios aumentará e as cadeias de fornecimento serão menos confiáveis. As perdas, diz a consultoria, serão absorvidas pelos consumidores.

DECLÍNIO AMERICANO

A Eurasia diz ainda que o declínio da influência dos EUA no mundo vai acelerar em 2018, diante da crise de credibilidade da mistura de 'soft power' econômico e liberalismo político.

Para a consultoria, o mundo está agora mais perto da depressão geopolítica do que de uma reversão da estabilidade passada.

E avalia que a política americana delineada pelo "América primeiro", slogan do presidente Donald Trump, corroeram a ordem liderada pelos EUA e suas barreiras de segurança, enquanto nenhum outro país ou conjunto de países está pronto ou interessado em reconstruí-la, aumentando significativamente o risco global.

"Agora vemos mais claramente um mundo sem liderança", dizem. Para a consultoria, as democracias liberais têm menos legitimidade do que em qualquer momento desde a Segunda Guerra Mundial, os cidadãos estão divididos e os governos pouco governam.