Bolsa vai a mínima em 2 meses após governo citar derrota na Previdência

Autor: Da Redação,
terça-feira, 07/11/2017

ANAÏS FERNANDES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As declarações destoantes entre o presidente Michel Temer e sua equipe econômica sobre o andamento da reforma da Previdência nos últimos dias fizeram a Bolsa brasileira fechar esta terça-feira (7) abaixo dos 73 mil pontos pela primeira vez em dois meses.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas, caiu 2,55%, para 72.414 pontos -o índice havia atingido a casa dos 72 mil pontos no dia 5 de setembro. O volume negociado na sessão foi de R$ 13 bilhões.

Em evento em São Paulo nesta terça, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que não vai recuar na reforma da Previdência.

Sua fala vem na esteira da declaração feita pelo presidente Michel Temer na segunda (6) admitindo que a reforma pode não ser votada, mas que isso não inviabilizará seu governo.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também repercutiu a afirmação, dizendo que não interpretou as declarações do presidente como um sinal de desistência do governo. Ele admitiu, no entanto, que o tema é polêmico e não instiga otimismo. "Esse nunca é um tema para a gente estar otimista", afirmou o deputado.

Das 59 ações do Ibovespa, 53 caíram e 6 subiram.

"O mercado hoje precificou que a reforma não deve acontecer neste ano. E o Meirelles já chegou a dizer que sem a reforma não teria como não aumentar impostos, um aspecto negativo no entender dos investidores", disse Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.

Chinchila destaca que a perda de força do governo acaba impactando empresas estatais.

As ações do Banco do Brasil recuaram 5,34%. Os papeis preferenciais da Petrobras também caíram 5,33%, e os ordinários, 4,59%, afetados ainda pela queda nos preços do petróleo no mercado internacional.

O petróleo bruto recuou 0,21%, a US$ 57,23, e o bret caiu 0,9%, para US$ 63,69. Os preços haviam atingido máximas desde meados de 2015 na segunda, após o príncipe herdeiro da Arábia Saudita consolidar seu poder ao longo do fim de semana em uma repressão contra a corrupção.

"A Bolsa está subindo mais de 20% no ano em uma economia que ainda dá sinais de melhor. Alguém uma hora tem que pagar por esse otimismo. É um ajuste forte a médio prazo, os compradores perdem força e os vendedores estão mais atuantes, rompendo preços importantes para baixo, que mantinham as ações e o índice em alta", disse Fabrício Stagliano, analista-chefe da Walpires Corretora.

Para Stagliano, a expectativa de o Ibovespa romper novas altas deve ficar para o próximo ano. Em outubro deste ano o índice renovou seu recorde ao atingir 79.989,79 pontos, puxado pelos papéis da Vale.

Na sessão desta terça, as ações preferenciais da mineradora caíram 2,32%, e as ordinárias, 2,39%, após três pregões seguidos de ganhos, acompanhando a queda de 1,1% nos preços do minério de ferro na China.

A maior perda foi da siderúrgica Usiminas, cujos papéis recuaram 8,68%.

A rede de aluguel de carros Localiza liderou as altas, com os papéis subindo 5,35%. A empresa divulgou balanço, com lucro líquido ajustado recorde de R$ 139,5 milhões no terceiro trimestre.

No setor financeiro, as ações do Itaú Unibanco caíram 2,38%. Os papéis preferenciais do Bradesco recuaram 3,05%. As ações ordinárias do banco tiveram queda de 2,93%. As units -conjunto de ações- do Santander Brasil fecharam caíram 1,73%.

DÓLAR

Também afetada pelas incertezas em relação à reforma da Previdência, mas ainda na cola do cenário externo, a moeda norte-americana se valorizou em relação ao real nesta terça.

O dólar comercial subiu 0,52%, para R$ 3,277. O dólar à vista registrou alta de 0,36%, também a R$ 3,277.

"Foi um movimento bastante alinhado com o exterior, em que as divisas emergentes perderam bastante contra o dólar", afirmou Cleber Alessie, da corretora HCommcor.

Das 31 principais moedas do mundo, 25 perderam força ante o dólar. A moeda subiu 1,65% sobre a lira turca e 0,7% em relação ao rand sul-africano.

"O mercado ainda vem refletindo a espera por um novo aumento na taxa de juros dos Estados Unidos neste ano e a perspectiva bastante forte da reforma tributária norte-americana", disse Alessie.

Ele explica que o Brasil se mostrou resiliente nos últimos três meses porque ainda havia a expectativa de que uma reforma da Previdência poderia ser aprovada neste ano.

"Nos últimos dias, porém, vimos que não foi suficiente o governo sobreviver à segunda denúncia da PGR [Procurador-Geral da República], porque ela de fato caiu, mas a reforma não avança. O mercado está olhando para o calendário, vendo que daqui a pouco é recesso e aprovar isso em ano de eleição será muito difícil", afirmou Alessie.

Soma-se a isso as incertezas para o cenário eleitoral de 2018. "Estamos, talvez, em um dos momentos de véspera de eleição mais indecisos da história do país", diz Stagliano.

O CDS (credit default swap, espécie de termômetro de risco-país) subiu 3,73%, para 177,6 pontos.

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados com vencimento mais curto tiveram sinais mistos. O DI para janeiro de 2018 recuou de 7,212% para 7,208%. A taxa para janeiro de 2019 caiu de 7,290% para 7,280%.