RAQUEL LANDIM
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sob escrutínio das autoridades em muitos países por causa dos crimes revelados na Operação Lava Jato, a Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) encontrou um refúgio para tentar reerguer seus negócios: Angola.
A construtora conseguiu US$ 1,8 bilhão em novas obras no país africano, conforme informação repassada pela Odebrecht a analistas que avaliam o risco de solvência de seus títulos. Procurada, a companhia não comentou o assunto.
As obras em Angola são um alívio para o grupo baiano, que tem dificuldade para obter contratos desde que foi atingido pela Lava Jato. A carteira de novos projetos caiu praticamente pela metade, de US$ 28,1 bilhões em 2015 para US$ 15 bilhões em 30 de junho deste ano.
Angola é um dos poucos países em que a Odebrecht possui uma presença importante mas não é investigada por pagar propina a políticos. A empresa já firmou acordos de leniência com cinco países, incluindo o Brasil, e as investigações prosseguem no Peru, na Argentina, na Colômbia e no México.
O governo angolano, no entanto, não dá sinais de preocupação com os crimes revelados pela Lava Jato. O país, que é muito rico em petróleo, ocupa a 164ª posição entre 176 países no ranking de corrupção da ONG Transparência Internacional.
A Odebrecht chegou a Angola em 1984, apenas cinco anos depois de José Eduardo dos Santos assumir a Presidência. Ele ficou no poder até duas semanas atrás, substituído por João Lourenço, que é do mesmo grupo político.
Segundo analistas que participaram da conferência telefônica com os executivos da Odebrecht, a construtora fechou um acordo de US$ 1 bilhão com o governo angolano para a operação e a manutenção de três usinas hidrelétricas interligadas.
O entendimento, que inclui as usinas de Campanda, Camambe e Laúca, foi selado há dois meses, mas ainda não foi assinado. Também está prevista no mesmo pacote a modernização da usina de Campanda, primeira obra da construtora no país.
Além disso, a Odebrecht iniciou neste ano as obras das linhas de transmissão de energia de Laúca, um contrato de US$ 797 milhões. O entendimento está assinado desde 2015, mas a primeira turbina da hidrelétrica só foi acionada em julho deste ano.
Estava prevista ainda uma segunda fase de ampliação de Laúca, que foi interrompida depois que o BNDES travou os financiamentos para construtoras envolvidas na Operação Lava Jato.
Em retaliação, Angola parou de depositar as garantias do financiamento.
Sem a ajuda dos empréstimos subsidiados pelo BNDES, o governo angolano pretende financiar as novas obras da Odebrecht com recursos próprios, mas ainda não há detalhes de como isso será feito e qual será o custo.