Senadores do PT e PSDB se unem para criticar diretor do BC e alta de juros

Autor: Da Redação,
terça-feira, 15/12/2015

EDUARDO CUCOLO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e José Serra (PSDB-SP) se uniram nesta terça-feira (15) para criticar um dos membros da diretoria do Banco Central e fazer um apelo ao presidente da instituição contra a possibilidade de alta de juros em janeiro.
O diretor de Assuntos Internacionais do BC, Tony Volpon, único representante do mercado financeiro no Copom (Comitê de Política Monetária), foi classificado por Serra como "especialista em tagarelice e exibicionismo".
O senador tucano afirmou discordar do procedimento no qual diretores do BC sinalizam ao mercado que os juros irão subir, o que acaba por obrigar a instituição a cumprir essa promessa, mesmo quando esse não é um entendimento de todos os membros do Copom.
"O senhor tem um diretor especialista em tagarelice e exibicionismo nesse sentido", afirmou Serra sem citar nomes.
"Eu me somo ao senador Serra nas críticas ao diretor Tony Volpon. Acho que ele está expondo o BC em demasia. Essa última indicação do diretor saiu um pouco da curva", afirmou o colega petista em referência à afirmação do diretor, feita há duas semanas, de que a instituição irá atuar "de forma contundente" para segurar a inflação. A mensagem foi vista pelo mercado como sinal de alta de juros em janeiro.
Serra afirmou que faria um apelo a Tombini para que os juros não subam. "O aumento dos juros não terá outra função a não ser deteriorar a situação fiscal", disse.
Lindbergh afirmou que há um concesso "pela primeira vez" na comissão do Senado em torno da preocupação com a desaceleração da economia e com o aumento dos juros.
"Eu queria que vossa excelência sentisse um pouco esse pulso, ao falar com esses senadores que têm o contato com as pessoas nas ruas", afirmou o petista. "Estou fazendo um apelo aqui. Os senhores têm de pensar muito no que significaria o BC aumentar os juros em janeiro. É o período do grosso das demissões. Vamos ter uma pancada de gente desempregada em janeiro."
Tombini afirmou que não se pronunciaria sobre nenhum diretor individualmente. Sobre os juros, afirmou que "a taxa está no patamar em que está para trazer a inflação, que está em 10%, para baixo."
Disse ainda que o objetivo do BC é não passar de 6,5% em 2016 e trazer a inflação para 4,5% em 2017.
POLÊMICA
No final de novembro, quando a taxa Selic foi mantida em 14,25% ao ano, dois diretores votaram pelo aumento dos juros. Volpon e o diretor Sidnei Corrêa Marques (Organização do Sistema Financeiro) queriam a elevação para 14,75% ao ano.
Na semana seguinte, Volpon disse que o BC tem de "agir e responder de forma contundente e tempestiva para retomar o processo de ancoragem das expectativas inflacionárias" e que "um ajuste monetário eficiente" vai contribuir para a retomada do crescimento.
Em julho, Volpon se absteve de votar na primeira reunião em que participaria como membro do Copom, depois de dar a declaração polêmica de que iria votar pela alta da taxa até que as projeções do BC para a inflação recuassem.
Na época, o senador José Serra (PSDB-SP), em artigo publicado na Folha de S.Paulo, disse que o Senado deveria se pronunciar sobre o comportamento de Volpon, que teria cometido "a grave bobagem de antecipar a analistas de mercado e à imprensa seu voto."