Brasil está preparado para ‘choques financeiros’, diz Mantega

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 30/09/2011
Brasil está preparado para ‘choques financeiros’, diz Mantega

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta sexta-feira (30) que o governo está preparado para tomar medidas de estímulo à economia em caso de agravamento da crise. Segundo Mantega, se necessários, os estímulos poderão ser tanto fiscais quanto monetários, pela redução dos juros.

“O Brasil está preparado para novas políticas anticíclicas. Estamos preparados para choques financeiros que poderão vir ou não. Eu espero que não, mas se vierem, nós estamos preparados. Como? Com essa nossa política fiscal sólida, com crescentes superávits, temos situação fiscal sólida e temos reservas fiscais para serem utilizadas. Com a solidez do nosso sistema financeiro, e com elevadas reservas internacionais, que facilitarão por exemplo, se faltar crédito para o comércio exterior, a utilização das nossas reservas para bancar", declarou.

Ao falar sobre as estratégias de competitividade do Brasil durante a crise, Mantega destacou que o Brasil tem mais “munição” para estimular a economia do que países avançados que estão endividados, como os EUA, e no centro da crise, como os europeus.

“O Brasil hoje reuniu condições fiscais e monetárias para uma ação anticíclica que poderá se fazer necessária usando, por exemplo, as elevadas reservas de compulsório que temos”, afirmou durante evento realizado em SP, destacando que o compulsório já foi ferramenta adotada pelo governo na época da crise de 2008.

Entre o estímulo fiscal (desonerações), ou monetários (baixar juros) à economia, no entanto, Mantega disse preferir a segunda opção.

“As elevadas taxas de juros que não são exatamente uma vantagem mais, numa situação como essa, tem margens para serem reduzidas. (...) Se necessário for, e se o BC julgar necessário, isso será utilizado.”

“Vou dar preferência para o estímulo monetário se necessário for. Vamos deixar o sistema fiscal quieto sem utilizar as reservas fiscais, de modo a usar os estímulos monetários. O estímulo monetário não custa nada. Essa é a grande diferença, o fiscal custa", argumentou.

"É prudente que tomemos medidas preventivas. Não vamos esperar o pior acontecer para que medidas sejam tomadas. A primeira linha de atuação é a fiscal, estamos assistindo hoje a uma crise fiscal em vários países, portanto temos que fortalecer nossa situação fiscal".

Para Mantega, uma medida importante é o direcionamento das compras governamentais. "Não é nenhuma novidade, os EUA praticam isso desde 1933 (...) . Usar a capacidade de compra do estado para privilegiar produtos nacionais", disse.

"Por exemplo, até recentemente o Exército comprava uniformes asiáticos, e temos uma indústria consolidada. (...) Para cada setor tem um percentual a mais que o governo aceita pagar em relação ao preço do produto estrangeiro. Estabelecemos que é 8%. Certamente este custo será compensado pela ativação da atividade produtiva do Brasil.

"Não é segredo para ninguém que a situação internacional vem se agravando há alguns meses. A União Europeia, Estados Unidos e Japão não superaram até hoje a crise de 2008. Está no nosso horizonte mundial um longo período de baixo crescimento para os chamados países avançados", disse.

Segundo Mantega, o "cenário mais otimista" é o de recessão. "Existe no horizonte a possibilidade de que, em algum momento, esse baixo crescimento se transforme em recessão, em crescimento negativo. Isso não está descartado. E este é o cenário mais otimista", falou.

"O cenário mais pessimista é que a economia mundial mergulhe numa nova crise da dívida soberana. Existem países que podem se deparar com uma crise da dívida soberana que desencadeará uma nova crise financeira. No melhor cenário, poderemos ter dois, três, quatro anos de recuperação nos países avançados."

Para o ministro, a Europa tem “condições de reagir" e evitar um default dos países mais fracos da cadeia europeia, se conseguir se articular politicamente para combater a crise. “O que me preocupa no cenário europeu são as dificuldades de sintonizar a ação de muitos países. (...) Imagina com 17 países e 17 parlamentos.Acaba dando uma demora e o timing econômico muitas vezes é diferente do timing político", acrescentou.