Mulher leva corpo da irmã até hospital para comprovar óbito

Autor: Da Redação,
segunda-feira, 25/04/2022
Mulher leva corpo da irmã até hospital para comprovar óbito

Uma moradora de um povoado teve que levar o corpo da irmã até um hospital para conseguir atestado de óbito. A família, que vive no assentamento Irmã Adelaide, em Tocantins, ficou com o corpo em casa por quase um dia sem conseguir velar ou enterrar. 

Os familiares informaram que Deusirene Ferreira de Aquino, de 54 anos, morreu de causas naturais na varanda da residência onde vivia. A irmã dela teve que enrolar o corpo em uma lona, colocar na carroceria de carro e fazer uma peregrinação até conseguir atendimento para emitir o atestado de óbito.

No último dia 16, Deusirene sofreu um mal-estar durante a manhã. Já no período da tarde, ela não conseguia se levantar da rede, por conta de fraqueza e diarreia. 

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado pela irmã da mulher, Raimunda Ferreira Aquino. Os socorristas deveriam sair de Palmas e o tempo de espera seria de aproximadamente 30 minutos.

Aproximadamente duas horas depois a ambulância ainda não tinha chegado e Deusirene morreu na rede onde estava deitada. "Às vezes se eles tivessem chegado a tempo minha irmã não tinha ido a óbito", disse a lavradora.

Só que dor da perda não foi à única angústia vivida naquele dia e o sofrimento estava apenas começando. Ao ligar para funerária, a irmã descobriu que precisaria do atestado de óbito para que o corpo pudesse ser removido.

Só que a unidade de saúde do povoado não tem atendimento no fim de semana e os moradores dizem que a ambulância do assentamento está quebrada desde o ano passado.

Ainda com o corpo deitado na rede, dona Raimunda foi orientada por policiais a procurar uma delegacia. Ela seguiu para Barrolândia, cidade mais próxima, mas deu de cara com o portão fechado. "Lá não tem delegacia aberta no fim de semana nem em feriado."

Até ao Instituto Médico Legal eles recorreram, mas sem resultado porque a morte não tinha indícios de crime. A lavradora retornou para casa e, desesperada ao ver a irmã morta sem atendimento, decidiu ela mesma levar o corpo até o hospital de Miracema do Tocantins, sede do povoado.

"Eu peguei, com rede e tudo, pedi dois homens que tinha aqui. Eles pegaram [o corpo], eu abri a lona e eles colocaram com rede e tudo. Estava com as perninhas dobradas, bem encolhida porque os nervos tinham endurecido. A gente enrolou em duas lonas", disse.

No hospital a lavradora finalmente foi atendida, conseguiu a documentação e retornou ao assentamento com o corpo da irmã enrolado na lona e na carroceria do carro.

Só às 3h da madrugada de domingo (17) é que o corpo foi recolhido pela funerária. Ao longo de todo esse tempo, o Samu nunca chegou. "A não ser que eles estão na estrada. Erraram a estrada e nunca apareceram de sábado pra cá [sic] porque não me deram satisfação alguma", disse.

Como o corpo ficou sem tratamento adequado por quase 17 horas, o velório de verdade só pode durar alguns minutos. "Para mim foi uma humilhação muito grande. No momento que eu mais precisei, podia estar ao menos velando a minha irmã, eu estava velando ela enrolada em uma lona, dentro do carro enrolada em uma lona", lamentou a irmã.

As informações são do g1.