Convidada por deputados de oposição para falar na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, foi bombardeada com manifestações antivacina. Nísia foi defender a inclusão de crianças entre 6 meses e 5 anos no calendário de vacinação contra covid-19, mas deputados bolsonaristas protestaram. Na audiência na última terça-feira, 28, a ministra disse que a inclusão das crianças é baseada em dados científicos. Segundo ela, 110 crianças morreram em decorrência da covid-19 neste ano e, por isso, a vacinação é recomendada. A presidente da comissão, deputada Bia Kicis (PL-DF), afirmou que "vários médicos que trabalham com vacinas são contra a medida". A parlamentar disse ainda que o imunizante não deveria ser chamado de vacina e sim de "terapia gênica". O
Estadão Verificaexplicou que as vacinas de mRNA não são terapias genéticas, e incluiu uma nota da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que esclareceu que as vacinas contra covid não utilizam cópias de genes humanos para tratamentos de doenças, por isso, não podem ser classificadas dessa forma. A ministra argumentou que, mais do que afirmações individuais, é preciso consenso das comunidades científicas. Ela criticou ainda a falsa simetria dada em diversas ocasiões, inclusive na CPI da Covid, entre o que pensam cientistas individualmente e posicionamentos dos principais organismos de pesquisa e saúde do Brasil e do mundo. Outros deputados também utilizaram argumentos antivacina na discussão. A ministra falou que tais opiniões são temerárias e colocam em risco a saúde e própria a vida da população. A vacina entrará para a agenda de imunização das crianças e se tornará uma rotina, da mesma forma que ocorre para outros imunizantes, como os contra sarampo, rubéola e poliomielite. O comprovante de que a criança foi vacinada poderá ser cobrado para acessar alguns serviços e políticas públicas, como o Bolsa Família ou no ato de matrícula em escolas (embora, neste caso, não seja um impeditivo para inscrição). A vacinação infantil está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e é obrigatória nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. Nísia saiu da audiência antes do encerramento, quando ainda havia inscrições de deputados para falar. Foi sugerida uma convocação para que a ministra compareça à Casa. Kicis, que concordou com a medida, disse que colocará novo requerimento para votação.