Apontado por autoridades policiais como uma das lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC) na Baixada Santista, Cristiano Lopes Costa, conhecido como "Meia Folha", foi morto a tiros na noite desta terça-feira, 12, em uma lanchonete na Avenida São Jorge, no Guarujá. Um ex-vereador da cidade, que estava próximo ao alvo, também ficou ferido e teve de ser socorrido. O autor dos disparos fugiu.
Como mostrou oEstadão, o PCC hoje passa por um racha interno. Conforme "salve" (orientação geral a outros membros) investigado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), o líder máximo da organização criminosa, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, encomendou a morte de outros três nomes da alta cúpula no começo do mês passado.
Os alvos seriam três antigos aliados de Marcola: Roberto Soriano, o Tiriça; Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho; e Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka. Todos estão presos na Penitenciária Federal de Brasília, em mais um episódio que desafia a rede. Há praticamente um mês, dois presos ligados ao Comando Vermelho fugiram da unidade de segurança máxima de Mossoró (RN). Eles seguem foragidos.
Sobre o caso desta terça, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que testemunhas relataram aos policiais que um motociclista chegou repentinamente na lanchonete e efetuou "vários disparos" em Meia Folha. O homem, que tinha 41 anos, foi levado ao Pronto-Socorro São João, mas chegou já sem vida. No carro de Costa, foram localizados um colete balístico, bebidas e um telefone celular.
Conforme fontes internas do Ministério Público, Meia Folha é considerado um comparsa de Marcola nas ruas e braço direito do André Luiz da Costa Lopes, o Andrézinho da Baixada, que está preso e sob acusação de ter participado dos homicídios, em 2018, de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e de Fabiano Alves de Souza, o Paca.
No ataque desta terça, Geraldo Soares Galvão, ex-vereador do Guarujá, também foi baleado enquanto conversava com amigos na lanchonete. O homem, que tem 61 anos, foi levado para o Hospital Guarujá, onde permanece internado. Ele se manifestou em vídeo publicado nas redes sociais na manhã desta quarta-feira, 13: "Em breve estarei em casa, com o poder de Deus."
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, a ocorrência foi registrada como homicídio e tentativa de homicídio na Delegacia do Guarujá, que solicitou perícia do local onde os disparos foram efetuados. As investigações estão em andamento para identificar o autor do crime. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Cristiano Lopes Costa. O espaço está aberto para manifestação.
Operação Verão
O ataque ocorre em paralelo à 3ª fase da Operação Verão, desencadeada no começo do mês passado pela Polícia Militar na Baixada Santista após a morte de um policial da Rota. Alvo de denúncias, a incursão já resultou em ao menos 43 mortes. A atuação remete à primeira fase da Operação Escudo, que ocorreu no segundo semestre do ano passado e somou 28 óbitos.
Como mostrou oEstadão, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi denunciado no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) em razão das mortes provocadas por ações policiais na Baixada Santista. Em resposta à denúncia, o chefe do Palácio dos Bandeirantes defendeu as atividades policiais: "Não estou nem aí", disse no último dia 8 sobre os possíveis casos de abuso.
Conforme a Secretaria da Segurança Pública, todas as mortes são investigadas pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento da Corregedoria, do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e do Poder Judiciário. A pasta afirmou que a 3ª fase da Operação Verão tem o objetivo de "asfixiar o crime organizado" na Baixada Santista, considerada um dos epicentros para o envio de cocaína para outros continentes.
"Desde o início da 1ª fase da ação, em 18 de dezembro, 891 criminosos foram presos, incluindo 344 procurados pela Justiça, e 653,5 quilos de drogas retiradas das ruas. Além disso, 90 armas ilegais, incluindo fuzis de uso restrito, foram recolhidos", disse a secretaria, em nota. A 3ª fase da operação permanece em andamento na região por tempo indeterminado, com o reforço de 400 policiais.